Gustavo Alonso

Doutor em história, é autor de 'Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira' e 'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga'.

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Sertanejo universitário, 18, chega à maioridade

Em 26 de maio de 2005, Jorge & Mateus se apresentavam em boate em Itumbiara

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Hoje, 26 de maio, uma das duplas mais conhecidas da música sertaneja, Jorge & Mateus, completa 18 anos de carreira. A data marca a maioridade da geração que ficou conhecida como "universitária" na primeira década do milênio e mostra como aqueles jovens se tornaram parte da tradição da música sertaneja atual. A trajetória de Jorge & Mateus ilustra os dilemas da geração.

Oriundos de Itumbiara, no interior de Goiás, Jorge & Mateus se conheceram num churrasco. Assim como boa parte dos artistas do sertanejo dos anos 2000, a dupla era oriunda dos bancos universitários. Jorge estudava direito e Mateus, agronomia. A primeira apresentação aconteceu em 26 de maio de 2005, numa boate da sua cidade natal, para um público universitário. Logo gravaram um CD, com qualidade amadora, cheio de canções próprias e muitas regravações, que foi lançado na internet e pirateado por camelôs locais.

Era o começo da internet banda larga, das redes sociais (Facebook e Orkut) e do YouTube. E os sertanejos universitários souberam surfar tanto na nova internet do início do milênio quanto na pirataria. Boa parte dos artistas da geração universitária não surgiu embalada pelas grandes gravadoras da época, que cambaleavam diante das cópias indiscriminadas da música digital. Em vez de reclamar daquela realidade, os sertanejos embarcaram nela e nunca se pronunciaram diretamente contrários à pirataria ou ao compartilhamento de MP3 pela internet.

A apologia ao mundo digital teve como parceiros César Menotti & Fabiano, João Bosco & Vinícius e Victor & Leo, duplas pioneiras da geração universitária. Todos eles produziram CDs amadores e os próprios artistas cuidavam de espalhar os discos pelos ambulantes e pela internet. Quando o mercado físico não dava conta, a virtualização da música dava uma ajuda.

Em 2005, Victor & Leo recebiam e-mails de rádios do interior de Goiás dizendo que as canções "Fada", "Amigo Apaixonado" e "Vida Boa" estavam entre as três primeiras colocadas. Os radialistas diziam que, embora eles nunca tivessem se apresentado naquela região, suas canções eram as mais pedidas. Como o CD não era encontrado em lojas, os profissionais de rádios pediam que a dupla enviasse os arquivos em MP3, o que era feito por Victor.

Em 2007, Jorge & Mateus lançaram o primeiro disco, o CD "Ao Vivo em Goiânia" (2007), por uma grande gravadora, a Universal, e alcançaram fama nacional. Desse trabalho veio o primeiro hit, a música "Pode Chorar". Outro sucesso, "De Tanto Te Querer", entrou na novela "A Favorita", transmitida em horário nobre da Rede Globo.

De lá pra cá emplacaram sucessos como "Aí Já Era", "O que É queTtem", "Voa Beija-flor", "Tem Nada a Ver", "A Flor", "Um Dia te Levo Comigo", entre tantos outros cantados em rodinhas de violão Brasil afora.

Gravaram DVD em Londres, foram os artistas mais ouvidos do Spotify no ano do lançamento da plataforma (2015) e se tornaram mitos da geração universitária. Um dos motivos é a durabilidade da carreira em alta popularidade.

Não que a dupla não tenha tido seus percalços. Declarações polêmicas de Jorge trouxeram pedras no caminho. Numa das mais recentes, o cantor polemizou com o apresentador Ratinho. O empresário disse que não gostava da antipatia da dupla. Como Ratinho possui mais de 60 rádios pelo Brasil, disse que só tocaria a dupla se eles pagassem. Jorge retrucou: "Eu já o conheço um pouco mais e acredito que aquilo tudo faz parte do personagem que ele criou. A gente não curte muito esse negócio de aparecer não".

A intensidade de shows também trouxe dificuldades para a dupla, especialmente para Jorge, que canta alto e às vezes de forma descompromissada demais nos shows ao vivo. As divergências internas também cobraram um preço. De personalidades bem diferentes, alguns desentendimentos entre os artistas são notórios.

Mas Jorge & Mateus seguem como uma dupla do primeiro time. Diferentemente de artistas da mesma geração, como João Bosco & Vinícius e Marilia Cecília & Rodolfo, que parecem viver um relativo ostracismo se comparado ao sucesso que tiveram na época áurea do sertanejo universitário, ou de Victor & Leo, que se separaram, Jorge & Mateus mantêm-se no topo.

A maioridade cobra seu preço e hoje eles não são mais a vanguarda que um dia foram. Mas a longevidade da dupla ilustra a durabilidade do sucesso da geração universitária, que mostrou-se mais que um mero modismo musical datado na história.

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