Gustavo Alonso

Doutor em história, é autor de 'Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira' e 'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga'.

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Museu Tião Carreiro é estímulo para o turismo pelo interior de São Paulo

Em Pardinho, festival raro no país reverencia o rei do pagode por causa do aniversário das três décadas de sua morte

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Uma das formas de se conhecer o passado é por meio de museus. A abertura de uma instituição em homenagem ao grande violeiro e cantor Tião Carreiro, na cidade de Pardinho, no interior de São Paulo, é fato a se comemorar diante da realidade brasileira de frequente desprezo pela memória dos ídolos musicais do passado.

Tião Carreiro fez história na música caipira. Fundador de um modo único de tocar, criador do pagode de viola, Carreiro é ídolo até hoje copiado por boa parte daqueles que louvam a tradição caipira. Embora nascido mineiro, em 1934, foi em Araçatuba, no interior de São Paulo, que Carreiro começou a carreira, no início dos anos 1950. Com o sucesso, mudou-se para a capital paulista, onde passou a gravar discos quase todo ano até o fim da vida.

A dupla caipira Tião Carreiro e Pardinho - Divulgação

Em parceria com compositores caipiras como Lourival dos Santos, Dino Franco, José Fortuna, Moacyr dos Santos e o lendário Teddy Vieira, Carreiro construiu um legado que é marco no gênero. Mas morreu em relativa pobreza em 1993.

Foi depois da morte de Carreiro que sua mulher e filha ganharam noção da importância do violeiro. "Para a gente ele era uma figura comum, não tinha nada de especial", contou a filha Alex Marli. Aos poucos elas começaram a perceber que sua memória continuava viva entre violeiros e caipiras.

Foi quando mãe e filha começaram a brigar pela memória de Carreiro. Patentearam a marca exclusiva do pai, criaram um bonito site do violeiro e buscaram preservar a memória de Carreiro por meio de documentários e livros, sem muito sucesso.

"Houve cineastas que nos procuraram, interessados em filmar a história de meu pai, mas nenhum levou o projeto à frente", disse a herdeira. Sobre livros, a família deu entrevistas a alguns pesquisadores, mas nada foi muito adiante. Uma pena, pois há um imenso público para uma biografia de Tião Carreiro, personagem tão importante quanto enigmático.

A cantora Inezita Barroso
A cantora Inezita Barroso - Divulgação

Se Carreiro fosse americano, talvez até sua casa virasse museu. Sua morada, hoje habitada pela única herdeira viva, a filha Alex Marli, fica em Ponte Rasa, na zona leste de São Paulo. Seria uma ótima forma de valorizar o turismo em áreas da cidade quase sempre desprestigiadas de museus e instituições culturais. Mas tal empreitada parece não interessar nem às prefeituras nem a entidades privadas. Uma pena.

Foi o pesquisador Sérgio Vieira o responsável pela criação do museu que será aberto em Pardinho, no interior paulista. Vieira é o criador do site Casa dos Caipiras, que desde 2005 veicula a cultura caipira na internet, com milhares de acessos em sua rádio digital 24 horas por dia, sete dias por semana.

Ele é também o responsável pelo Festival de Música Raiz de Pardinho, o Fesmurp, que, desde meados da década passada, é um dos principais encontros do gênero e já recebeu até a visita da histórica Inezita Barroso.

Em 2014, o Fesmurp homenageou o que teria sido o 80º aniversário de Carreiro. Dez anos depois, a cidade de Pardinho reverencia os 30 anos de saudade do "rei do pagode" na festa que acontece nos dias 8, 9 e 10 de dezembro, no Centro Cultural Max Feffer. Em meio aos festejos, haverá uma competição de violeiros com prêmio de R$ 20 mil em dinheiro.

Cartaz do 14° Fesmurp, em Pardinho
Cartaz do 14° Fesmurp, em Pardinho - Reprodução

No dia 10, domingo, será inaugurado o museu de Tião Carreiro. Ele funcionará no mesmo centro cultural e seu acervo contará com 137 bens do artista, entre roupas, discos, prêmios e até instrumentos musicais do violeiro, alguns de importante valor histórico. Os bens foram doados em regime de comodato pela filha de Carreiro e, caso a prefeitura não honre com a preservação do acervo do músico, podem ser resgatados pela herdeira a qualquer momento.

O comodato é uma forma de a família se resguardar do frequente descaso público, que já aconteceu antes. A Prefeitura de Araçatuba prometeu mundos e fundos para a família num passado recente, mas nunca inaugurou o museu, frustrando a mulher do violeiro, Nair. Morta no ano passado, a mulher infelizmente não verá a inauguração do museu de Pardinho.

O museu de Tião Carreiro se juntará ao Museu da Música Tonico & Tinoco e Pedro Bento & Zé da Estrada, que fica na cidade de Pratânia e foi inaugurado em 2001. Foi numa casa em Pratânia, perto de Botucatu, no interior paulista, que Tonico e Tinoco passaram boa parte da infância.

Tomara que exemplos como esses estimulem mais a museificação da música caipira e sertaneja. Está aí uma ótima forma de estimular o turismo cultural em pequenas e médias cidades Brasil afora.

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