Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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O paradoxo de Felipe Neto

Empresário bem-sucedido critica o capitalismo

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Com tino e competência, Felipe Neto tem seguido a cartilha do empreendedor descrita por Ludwig von Mises. Felipe é um dos muitos que enriquecem com trocas voluntárias e propriedade privada —o capitalismo. Ironicamente, prega contra o capitalismo malvadão.

O bom empresário satisfaz seu consumidor: entrega o melhor produto nas melhores condições. Quando o faz, é recompensado. Caso contrário, um concorrente tomará seu cliente.

Felipe Neto produz, há 15 anos completados em maio, vídeos sobre games e assuntos aleatórios adolescentes. Tem 42 milhões de seguidores —mais que Ryan Kaji, o youtuber mais bem pago do mundo, segundo a Forbes— e mais de 13 bilhões de visualizações. Considerando que o YouTube remunera globalmente entre R$ 0,05 e R$ 0,15 por visualização de anúncio (existem diferenças de país a país), Felipe pode ter faturado centenas de milhões de reais.

Nesses anos de empreendedorismo, Felipe também abriu uma agência de marketing digital e uma plataforma para games. É muito rico. Em seus vídeos, fala quase nada de política —evita macular seu produto com ideologia. A militância deixa para o Twitter, onde recentemente anunciou ter lido Chomsky e Galeano e estar muito preocupado com “o exagerado acúmulo de capital e com o neoliberalismo”.

O paradoxo de Felipe Neto, comum à “classe intelectual” (que desdenha o canal de Felipe), foi descrito por Ludwig von Mises em “A Mentalidade Anticapitalista”. A ignorância sobre a ciência econômica e a inveja do mais bem-sucedido costuma caracterizar os anticapitalistas.

Empreendedores como Felipe devem sua riqueza aos que prestigiam seu produto, clientes e audiência alheios a conceitos abstratos como mérito “verdadeiro” ou valor intrínseco. Os intelectuais e o próprio Felipe podem ter dificuldade para entender como um frívolo canal de games ou de conteúdo para crianças pode gerar tão mais acúmulo de capital que o trabalho de um intelectual esforçado e bem treinado.

O socialismo, pensam, corrigirá tal injustiça do capitalismo; afinal, todos aqueles que trabalham duro merecem ser felizes e iguais. Ignoram que o aumento da renda de todos e o aprimoramento da tecnologia dependem da boa política econômica (liberal), que prestigia o poupador (capital acumulado), a propriedade privada dos meios de produção e a livre iniciativa. E ignoram sobretudo que seu oposto, o socialismo, destrói as bases da prosperidade.

São lições inequivocamente demonstradas, por um lado, por países que eram estéreis e pobres há algumas décadas, como Coreia do Sul, Chile, Singapura, Hong Kong e Dubai (EAU), e, por outro, por aqueles que empobreceram: Venezuela, Argentina, e Brasil desde os anos 1980.

A crítica ao chamado capitalismo (ou socialismo) de compadres —Estado e interesse privado em conluio para benefício próprio— felizmente une capitalistas legítimos (liberais) e socialistas. Alguns “capitalistas”, no afã de defender o capitalismo, acabam racionalizando a ação estatal injustificável que nutre o capitalismo de compadres. E reciprocamente, no afã de criticá-lo, socialistas lamentavelmente descartam junto a política econômica que gera prosperidade.

Felipe sempre gostou de ler, preza a boa educação e prosperou no ambiente liberal da internet, usufruindo do capital acumulado pela tecnologia de seu iPhone, computadores e softwares, servidores da Amazon, serviços do Google etc. Ignora, no entanto, que o Brasil está longe de ser liberal, o que explica nosso atraso. Se deseja combater a pobreza e melhorar o Brasil para todos, deve se familiarizar com o que a ciência econômica diz sobre o tema.

Para sua próxima encomenda via big tech, sugiro: “As Seis Lições” (Ludwig von Mises), “Anatomia do Estado” (Murray Rothbard), “A Lei” (Frédéric Bastiat) e “A Riqueza das Nações” (Adam Smith).

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