Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Helio Beltrão

Pacote de Guedes mina base de apoio para financiar gastos eleitoreiros

Reforma tributária cria imposto adicional sobre dividendos, que configura dupla tributação e aumenta brutalmente a carga tributária das empresas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Como alertei na semana passada, Paulo Guedes perdeu mesmo o apoio da numerosa base liberal na sociedade após apresentar o pacote de maldades apelidado de reforma tributária.

O pacote, integralmente concebido pela Receita Federal, é constituído por umas duas dezenas de alterações da legislação tributária que em boa parte aumentam a complexidade e a insegurança jurídica, bem como elevam a tributação em várias áreas.

Além disso, cria um imposto adicional sobre dividendos, que configura dupla tributação e aumenta brutalmente a carga tributária das empresas: de 34%, a quarta maior do mundo, para 45% ou 43%, dependendo do humor do Ministério da Economia.

Por sinal, ninguém no ministério sabe explicar o impacto arrecadatório de cada medida do pacote. A Receita Federal sabe, mas não apresentou as memórias de cálculo até agora, apesar dos múltiplos pedidos de requerimento (Novo, PT) sob a égide da Lei de Acesso à Informação.

O ministro Paulo Guedes (Economia) entrega a segunda parte da reforma tributária ao presidente da Câmara dos deputados, Arthur Lira (PP-AL) - Pedro Ladeira - 25.jun21/Folhapress

A promessa de Guedes é que se trata de um pacote “neutro”, que não aumenta a arrecadação. No entanto, desconheço quem tenha dado credibilidade a essa promessa de neutralidade ou ao cálculo de R$ 1,9 bilhão de aumento de arrecadação apresentado por Guedes na semana passada.

O cheiro é de grande aumento de arrecadação, que pode financiar, segundo justificativa do presidente Jair Bolsonaro, uma versão anabolizada do Bolsa Família. O pacote é eleitoreiro. Guedes voltou atrás e afirmou que a dosagem foi exagerada. A bagunça é geral.

No Congresso, apoiam nominalmente o pacote os parlamentares bolsonaristas e o centrão —curiosamente as mesmas forças que atuam contra a abertura do processo de impeachment.

O deputado Arthur Lira (PP-AL) , presidente da Câmara, repetiu Guedes em entrevista, afirmando que “o pacote é neutro” e que “não se pretende aumentar a arrecadação”.

É curioso que Lira se declare comprometido com reformas que tornem o Brasil mais competitivo, mas prefira priorizar um pacote cujas razões econômicas não estejam claras. Pior: que pune poupança, investimento e aumenta a insegurança jurídica, justamente em um período de tentativa de retomada econômica.

Por exemplo, volta o tema da “distribuição disfarçada de lucros”, que obriga a Receita a fiscalizar as dezenas de milhares de empresas do regime de lucro presumido e dá mais poderes discricionários para autuações.

Similarmente, a medida que extingue o desconto simplificado da declaração de IRPF aumenta o imposto da classe média e sua complexidade. Se o pacote prosperar, será preciso que 7 milhões de brasileiros que adotam a declaração simplificada corram atrás de recibos de despesas de saúde e outras permitidas para dedução, com risco de glosa, hoje inexistente.

Finalmente, a quantidade de obrigações acessórias aumenta em várias das medidas: aumenta o manicômio tributário.

Quase todos creem que o pacote tem intuito arrecadatório, mas, mesmo que acreditassem na promessa do governo, qual o intuito de propor um pacote “neutro” em arrecadação que simultaneamente complica o sistema ao invés de simplificá-lo?

O problema mais urgente do governo é o inchaço dos gastos públicos e o déficit relacionado. Daí a importância da reforma do Estado. A prioridade é a reforma administrativa e, após sua aprovação, uma reforma tributária que mereça essa alcunha.

Em um momento político delicado para o governo, o pacote de Guedes provoca o rechaço em massa de formadores de opinião que até então o apoiavam: boa parte dos empresários, pequenos empreendedores, investidores, da classe média pejotizada e eventualmente os milhões que fazem declaração simplificada.

O centrão, que possui apurado tino político, pode vir a frustrar as intenções arrecadatórias do Ministério da Economia se perceber que arcará com o ônus do aumento de arrecadação. O mesmo centrão que segura o impeachment...

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.