O poeta romano Virgílio previu na sua messiânica “Bucólica IV” que a história iria se repetir em um determinismo circular; que outra nau Argo voltaria a ser tripulada por Jasão e demais argonautas, que outras guerras eclodiriam e que Aquiles seria enviado novamente a Troia.
No Brasil, tudo se repete sem que nos demos conta. Nossos maiores problemas sociais são rigorosamente os mesmos que amargavam nossos trisavós há cem anos. O diagnóstico de então coincide com o atual. A educação pública básica é uma calamidade que perpetua a desigualdade de oportunidades. A saúde pública é cronicamente deficiente, com filas de espera de meses. O cidadão comum segue sonhando com uma chance de ensino privado e saúde privada para si e seus filhos.
A violência nos grandes centros urbanos brasileiros alcança cifras próximas às de países em guerra civil. Comunidades sem saneamento em meio a lixões ainda são a regra, uma vergonha mundial. O pequeno sofre.
Estaremos condenados à eterna recorrência?
Uma importante deterioração é que o Brasil se tornou mais coletivista. Mais de 40% da riqueza gerada pelos brasileiros vai para o governo (impostos e déficit), ante 15% na primeira metade do século 20.
A campanha presidencial promete apresentar mesmíssimas “soluções” que fracassam há um século. Vote em mim e aumentarei as verbas, colocarei os melhores técnicos para tocar, diminuirei o desperdício e a corrupção.
O Brasil padece de um problema cultural: políticos são vistos como pop stars, indivíduos “acima” dos demais, com mais poderes e direitos, com onipotência para resolver problemas, heróis como os argonautas
A crença é que os males sociais derivam de pessoas ruins no poder e que, consequentemente, basta trocá-los por gente boa, preferencialmente “dos nossos”. Tudo se resolverá magicamente. O problema é que a história teima em nos ensinar que pessoas “boas” fazem o mal no poder.
“Todo o poder corrompe. E o poder absoluto corrompe de forma absoluta”, dizia Lord Acton. Em seu best-seller “O Caminho da Servidão”, Hayek argumenta que os piores chegam ao poder nos sistemas marcados pelo coletivismo central.
Um sistema coletivista como o brasileiro atrai pessoas dispostas a exercer o poder de forma a que os fins justifiquem quaisquer meios. Os fins —a perpetuação no poder— justificam a mentira e a ação criminosa, o engodo sobre as massas.
Lula arreganha os dentes e quer regular a mídia. Quer mais coletivismo. Bolsonaro aposta na retórica do inimigo comum, do “nós versus eles”, e no populismo, apoiado pelo transformado Guedes.
E os formadores do senso comum clamam pela “terceira via” (seria uma espécie de Geni do zepelim gigante?). Os nomes especulados têm procurado cumprir o ritual de discursos sob medida para soar bem junto ao público. Em comum, todos atendem o anseio de que o governo deve dar mais respostas.
Nessa lama coletivista, não esperem grande coisa da “terceira via”. Nem do eleito em 2022.
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