Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Helio Beltrão
Descrição de chapéu desigualdade educacional

Sistema coletivista incentiva a busca do poder perpétuo

No Brasil, tudo se repete sem que nos demos conta, e nossos maiores problemas sociais são os mesmos que os de cem anos atrás

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O poeta romano Virgílio previu na sua messiânica “Bucólica IV” que a história iria se repetir em um determinismo circular; que outra nau Argo voltaria a ser tripulada por Jasão e demais argonautas, que outras guerras eclodiriam e que Aquiles seria enviado novamente a Troia.

No Brasil, tudo se repete sem que nos demos conta. Nossos maiores problemas sociais são rigorosamente os mesmos que amargavam nossos trisavós há cem anos. O diagnóstico de então coincide com o atual. A educação pública básica é uma calamidade que perpetua a desigualdade de oportunidades. A saúde pública é cronicamente deficiente, com filas de espera de meses. O cidadão comum segue sonhando com uma chance de ensino privado e saúde privada para si e seus filhos.

A violência nos grandes centros urbanos brasileiros alcança cifras próximas às de países em guerra civil. Comunidades sem saneamento em meio a lixões ainda são a regra, uma vergonha mundial. O pequeno sofre.

Estaremos condenados à eterna recorrência?

Uma importante deterioração é que o Brasil se tornou mais coletivista. Mais de 40% da riqueza gerada pelos brasileiros vai para o governo (impostos e déficit), ante 15% na primeira metade do século 20.

A asfixia burocrática nos garroteia com mais força. A máquina de criar dinheiro segue a toda velocidade e derruba o poder de compra. E, sobretudo, acredita-se que é preciso que o empreendedor malvadão seja forçado a resolver iniquidades e o meio ambiente em vez de focar sua responsabilidade social de agregar valor ao longo do tempo ao oferecer os melhores produtos.

A campanha presidencial promete apresentar mesmíssimas “soluções” que fracassam há um século. Vote em mim e aumentarei as verbas, colocarei os melhores técnicos para tocar, diminuirei o desperdício e a corrupção.

O Brasil padece de um problema cultural: políticos são vistos como pop stars, indivíduos “acima” dos demais, com mais poderes e direitos, com onipotência para resolver problemas, heróis como os argonautas

A crença é que os males sociais derivam de pessoas ruins no poder e que, consequentemente, basta trocá-los por gente boa, preferencialmente “dos nossos”. Tudo se resolverá magicamente. O problema é que a história teima em nos ensinar que pessoas “boas” fazem o mal no poder.

“Todo o poder corrompe. E o poder absoluto corrompe de forma absoluta”, dizia Lord Acton. Em seu best-seller “O Caminho da Servidão”, Hayek argumenta que os piores chegam ao poder nos sistemas marcados pelo coletivismo central.

Um sistema coletivista como o brasileiro atrai pessoas dispostas a exercer o poder de forma a que os fins justifiquem quaisquer meios. Os fins —a perpetuação no poder— justificam a mentira e a ação criminosa, o engodo sobre as massas.

Lula arreganha os dentes e quer regular a mídia. Quer mais coletivismo. Bolsonaro aposta na retórica do inimigo comum, do “nós versus eles”, e no populismo, apoiado pelo transformado Guedes.

E os formadores do senso comum clamam pela “terceira via” (seria uma espécie de Geni do zepelim gigante?). Os nomes especulados têm procurado cumprir o ritual de discursos sob medida para soar bem junto ao público. Em comum, todos atendem o anseio de que o governo deve dar mais respostas.

Na corrida para não fracassar de vez como nação, estamos ficando para trás. Nos anos 1980, tínhamos a mesma renda per capita que a Coreia do Sul, cerca de 20% da renda do americano. Temos menos que isso hoje, e a Coreia tem mais de 2/3 da renda do americano. A renda média mundial já é superior à renda do brasileiro.

Nessa lama coletivista, não esperem grande coisa da “terceira via”. Nem do eleito em 2022.

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