Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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O todo-poderoso dólar

Juros altos do Fed atraem investidores para moeda dos EUA e apertam o resto do mundo

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O dólar está cada vez mais forte. Não me refiro apenas em relação a nosso real do lobo-guará, mas diante das tradicionais moedas do mundo, como o euro, a libra, o iene e o yuan chinês, que têm figuras mais emblemáticas estampando suas notas. O euro, por exemplo, está valendo menos que o dólar, o que não ocorria desde seu lançamento oficial, em 2002. A libra se aproxima da paridade, nível mais baixo de toda a história.

A aposta recorrente na derrocada final do dólar entre críticos recalcitrantes dos Estados Unidos, criptoutópicos turrões e especialistas de redes sociais segue gerando viúvas: é o trade que mata todos que tentam a sorte. A despeito das maciças injeções de heroína monetária no sistema financeiro, o dólar é sempre o porto seguro quando ocorrem crises.

O poderoso dólar se tornou uma desgovernada bola de aríete demolidora de moedas em 2022. Tudo cai em relação ao dólar. A exceção é o real, que se valorizou perante o dólar neste ano (embora em três anos tenha sido a moeda que mais se desvalorizou).

Cédulas de libra e dólar - Dado Ruvic/Reuters

Muitos países emergentes sentiram o baque do dólar forte, mas as principais vítimas são os desenvolvidos. O dólar sobe mais de 25% ante o iene e a libra e 20% em relação ao euro. Os europeus —que amargam grave crise energética— pagarão mais pelos importados, que alimenta ainda mais a inflação já explosiva.

Uma recessão já é dada como praticamente garantida no mundo desenvolvido. Como dizia Marcelo, em "Hamlet": "Há algo de podre no reino dos mercados". O Banco Mundial advertiu que a economia global pode sofrer uma série de crises financeiras que causarão danos duradouros.

O que causou o atual dólar demolidor? As taxas de juros em dólar —o preço mais importante do mundo— atraem os poupadores para investimentos na moeda americana. Na semana passada, o Fed aumentou mais uma vez a taxa básica, agora para o intervalo entre 3% e 3,25%. Esperam-se altas adicionais com consequente aperto das condições financeiras pelo globo.

No início deste ano, o Fed, desacreditado, mudou de postura e passou a travar uma batalha de vida ou morte para conter a mutação do vírus inflacionário. Poucos perceberam a radical mudança de regras de jogo, como mencionei em janeiro. Mesmo hoje, muitos duvidam de que o Fed manterá o olho na bola inflacionária a despeito de uma possível recessão.

As lições da história demonstram: quando consumidores, empresas e investidores passam a julgar que a inflação alta é racionalizada ou aceita pelas autoridades, apenas altas draconianas de juros conterão a epidemia.

O crescimento econômico notável nos últimos 40 anos se deveu em grande parte ao trabalho de Paul Volcker, Reagan e Thatcher, que enfrentaram a inflação galopante sem medo da recessão no início dos anos 1980. Praticavam a fé nos juros como os bispos da Inquisição Espanhola. Mas os bancos centrais dos últimos 15 anos relativizaram o credo. A inflação de 2021 e 2022 passou a ser culpa do vírus, da guerra, das cadeias de suprimento, dos empresários gananciosos; nada a ver com as trilionárias injeções de dinheiro e crédito ou com as taxas de juros negativas. O Fed acordou, finalmente. Mas e os demais?

O real vai bem, pois o BC fez o dever de casa, com o ajuste de maior magnitude do mundo. Europa, Japão e Reino Unido sofrem porque seus bancos centrais se recusam a subir os juros no ritmo necessário.

Enquanto isso, a Bolsa americana sofre com a escalada dos juros, mas os investidores ainda buscam bons motivos para ficar comprados. O pessoal do mercado é jovem e nunca viu uma alta dos juros em dólar para valer. Nem mesmo conhecem juros acima da inflação. Podem ter uma surpresa nada agradável.

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