Helio Mattar

Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Helio Mattar

Mudanças climáticas também impactam nosso corpo e produtividade

Para minimizar esses efeitos, hábitos de consumo mais conscientes têm papel fundamental

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

​Já sentimos na pele: julho foi o mês mais quente registrado em 140 anos, com ondas de calor e recordes de temperaturas, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). E 2019 caminha para ser o ano mais quente de toda a história.

Esses extremos, percebidos mundo afora, são consequências das mudanças climáticas e estão diretamente relacionados aos nossos comportamentos como consumidores.

Explico: o aumento contínuo das temperaturas na Terra está associado às emissões de gases de efeito estufa (GEE), que, por sua vez, são decorrentes de ações do homem.

Os seres humanos queimam combustíveis fósseis (como carvão, petróleo e gás natural), cortam florestas tropicais e se dedicam à pecuária para atender às necessidades de consumo da sociedade. O crescimento populacional aliado à crescente demanda por produtos e serviços fez a pegada de carbono da humanidade –ou seja, o quanto é emitido de carbono– triplicar desde 1970 (WFF).

Entendo que não exista vida sem consumo e nem consumo sem impacto. Mas se cada um de nós consumir de maneira diferente, buscando diminuir os impactos negativos de nossos hábitos, é possível contribuir para reduzir as consequências das mudanças climáticas. Limitar o aumento da temperatura média global depende da diminuição das emissões de GEE, e, portanto, das escolhas de consumo na sociedade.

Substituir o carro pelo transporte coletivo, pela bicicleta ou pela caminhada pode ser o primeiro passo para contribuir com a redução das emissões de GEE. Assim como a instalação de sistemas de energia renovável em casa ou a diminuição do consumo de carne vermelha. E, também, dar preferência a produtos de empresas que trabalham com uma cadeia produtiva mais sustentável é outra ação que faz grande diferença.

Nossos hábitos de consumo impactam o planeta como um todo, e é interessante refletir como eles nos afetam como indivíduos. Estudos indicam que o excesso de calor durante o trabalho representa um risco para a saúde ocupacional, restringindo funções e capacidades físicas. Geralmente, em temperaturas acima de 35º C, sofremos o chamado stress heat, quando o corpo humano não tolera o calor sem sofrer danos fisiológicos (ILO, 2019).

Se nosso corpo sofre com o aquecimento, nossa produtividade também. Assim, são impactadas as empresas, os governos e a economia como um todo. Estima-se que o aumento da temperatura média global gere uma perda de produtividade equivalente a 80 milhões de empregos até 2030 (ILO, 2019).

Consequências disso serão a redução dos lucros das empresas, a necessidade de flexibilizar o horário de trabalho e de investir em conforto térmico. O setor mais atingido neste cenário será o da agricultura, que já padece de outros tipos de impactos trazidos pelas mudanças climáticas (Sheng & Xu, 2019).

E isso vem ocorrendo no Brasil: no estado do Mato Grosso, tivemos uma perda de 4,25% de área de cultivo de soja e milho em decorrência do aumento de 1ºC na temperatura (Nature Climate Change).

 

Estudos da Embrapa indicam que, por conta de eventos climáticos extremos, outras regiões virão a perder seu potencial agrícola, resultando em migração de culturas. 

O café e a cana, por exemplo, terão de ser deslocados para áreas de maiores latitudes. E projeções do Banco Mundial, ainda mais pessimistas, afirmam que o país corre o risco de perder 10,6 milhões de hectares de terras cultivadas e 4,6 milhões de toneladas de grãos até 2030. Esse declínio na produção impactará os preços, a demanda doméstica e as exportações.

Economias mais pobres sofrem perdas econômicas mais significativas diante das mudanças climáticas, pois elas possuem menos recursos para se adaptar às mudanças e para investir em tecnologias e ferramentas capazes de mitigar seus impactos (ILO, 2019).

Por isso mesmo o esforço coletivo é ainda mais necessário. Governos devem reduzir as emissões de GEE e estabelecer planos de ações para manter o aquecimento global dentro do limite de 1,5ºC, como previsto no Acordo de Paris.

Empresas têm de repensar seus métodos de produção. E cabe ao indivíduo refletir sobre seus hábitos como consumidor. Diante de um cenário tão nebuloso, o consumo consciente se mostra como ferramenta fundamental para promover a necessária transição para estilos de vida mais sustentáveis, que contribuem para minimizar as consequências das mudanças climáticas. O poder de escolha está nas mãos de cada um de nós.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.