Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman
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À prova de verdade

Longe de mim sugerir que as fake news não são um problema, mas elas não são um problema novo

Depois das fake news, o “deepfake”. Novas técnicas de edição já permitem falsificar vídeos de maneira quase perfeita. A crer no excelente Ronaldo Lemos, a tecnologia é tão boa que ludibria até peritos forenses treinados para identificar imagens adulteradas.

Pior, não podemos nem delegar o trabalho de detetive às máquinas, porque já surgiram programas inteligentes que se valeriam do feedback dado pelos computadores encarregados de desbaratar a fraude para produzir falsificações ainda mais primorosa.

Longe de mim sugerir que as fake news não são um problema. Mas é importante frisar que elas não são um problema novo.

Pelo menos desde que a linguagem foi criada, lidamos com a necessidade de distinguir entre proposições verdadeiras e falsas. Quem tenta nos enganar sai em vantagem, porque nossos cérebros foram calibrados para aceitar como em princípio verdadeiras as informações que chegam até ele. Faz sentido. A linguagem, afinal, evoluiu para facilitar a cooperação entre humanos, o que exige que a maior parte do conteúdo das conversas entre as pessoas seja, senão verdadeira, pelo menos não perigosamente falsa.

O fato de o mentiroso sair na frente não significa que não tenhamos defesa contra o embuste. A linguagem permite passar adiante informações sobre a reputação das pessoas com quem interagimos. Se o sujeito mente reiteradas vezes, alguém perceberá isso e usará a fofoca para difundir a mensagem. Ficará mais difícil para ele abusar dos outros.

É claro que esse sistema funciona melhor em pequenas comunidades onde todos se conhecem, mas não é impossível reproduzir mecanismos do mesmo tipo em escalas maiores.

Desde que a o primeiro ser vivo descobriu que podia ludibriar presas e predadores utilizando camuflagem, estamos numa corrida armamentista contra o logro. As fake news são só mais um capítulo dessa disputa imemorial.

Cena de vídeo do diretor americano Jordan Peele, que manipulou imagens e sons da voz do ex-presidente Barack Obama para denunciar notícias falsas
Cena de vídeo do diretor americano Jordan Peele, que manipulou imagens e sons da voz do ex-presidente Barack Obama para denunciar notícias falsas - Reprodução

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