Depois das fake news, o “deepfake”. Novas técnicas de edição já permitem falsificar vídeos de maneira quase perfeita. A crer no excelente Ronaldo Lemos, a tecnologia é tão boa que ludibria até peritos forenses treinados para identificar imagens adulteradas.
Pior, não podemos nem delegar o trabalho de detetive às máquinas, porque já surgiram programas inteligentes que se valeriam do feedback dado pelos computadores encarregados de desbaratar a fraude para produzir falsificações ainda mais primorosa.
Longe de mim sugerir que as fake news não são um problema. Mas é importante frisar que elas não são um problema novo.
Pelo menos desde que a linguagem foi criada, lidamos com a necessidade de distinguir entre proposições verdadeiras e falsas. Quem tenta nos enganar sai em vantagem, porque nossos cérebros foram calibrados para aceitar como em princípio verdadeiras as informações que chegam até ele. Faz sentido. A linguagem, afinal, evoluiu para facilitar a cooperação entre humanos, o que exige que a maior parte do conteúdo das conversas entre as pessoas seja, senão verdadeira, pelo menos não perigosamente falsa.
O fato de o mentiroso sair na frente não significa que não tenhamos defesa contra o embuste. A linguagem permite passar adiante informações sobre a reputação das pessoas com quem interagimos. Se o sujeito mente reiteradas vezes, alguém perceberá isso e usará a fofoca para difundir a mensagem. Ficará mais difícil para ele abusar dos outros.
É claro que esse sistema funciona melhor em pequenas comunidades onde todos se conhecem, mas não é impossível reproduzir mecanismos do mesmo tipo em escalas maiores.
Desde que a o primeiro ser vivo descobriu que podia ludibriar presas e predadores utilizando camuflagem, estamos numa corrida armamentista contra o logro. As fake news são só mais um capítulo dessa disputa imemorial.
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