Eu não resisto. É mais forte do que eu. Dou, nesta coluna, continuidade à série "o que a Bíblia nos ensina?".
A Unesco acaba de definir que o dia 14 de março (3/14, na notação americana), que já era conhecido como Dia do π, será a partir de agora também o Dia Internacional da Matemática. Para aqueles cujos neurônios trigonométricos estão enferrujados, π é a constante obtida a partir da divisão do perímetro de uma circunferência pelo seu diâmetro. Seu valor aproximado é de 3,1415926.
O que a Bíblia nos ensina sobre π? É embaraçoso, mas ela ensina que o valor de π é 3. Confiram 1 Reis 7:23, em que se descreve o palácio de Salomão. "Fez [Hiran, um bronzista fenício] o Mar [um reservatório de água para banhos rituais] de metal fundido, com dez côvados de diâmetro. Era redondo, tinha cinco côvados de altura; sua circunferência media-se com um fio de trinta côvados". Trinta dividido por dez dá três, não os 3,14 esperados pelas leis do Universo. Ou Hiran fundiu um círculo impossível, ou a Bíblia traz um erro.
É só uma aproximação, dirá a turma do deixa disso. A Bíblia, afinal, não é um manual de matemática. Verdade. E as pessoas que entendem as Escrituras como um texto normal, que comporta erros, contradições e está sujeito às limitações gnoseológicas do tempo em que foi elaborado, não precisam perder o sono.
Um número não irrelevante de fiéis, porém, advoga pela inerrância da Bíblia. Precisam escolher se ficam com a infalibilidade da matemática ou a da Bíblia. É pouco crível, afinal, que um Deus que tem entre seus epítetos o de Grande Geômetra e que teria calibrado milimetricamente as constantes do Universo para permitir a vida, tenha sido tão desleixado a ponto de deixar que gravassem em seu Livro que o valor de π é 3. Matemáticos contemporâneos, sem nenhuma ajuda divina, conseguem calcular o valor da constante até a 31.415.926.535.897ª casa decimal.
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