Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Milton Ribeiro pode até cair, mas não pelas razões certas

Seu esquema tirou do centrão o poder de influir na liberação de verbas

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Kant era um chato de galochas. Para o filósofo de Königsberg, há duas formas de cumprir uma obrigação. Podemos agir "de acordo com o dever" ou "pelo sentido do dever".

Quando respeitamos a velocidade máxima de uma estrada por medo da multa, agimos "de acordo com o dever". Mas podemos também observar o limite de velocidade por acreditar que ele está de acordo com a racionalidade humana, que proporciona segurança e promove a paz no trânsito, por exemplo. Nesse caso, agimos "pelo sentido do dever". Para um consequencialista, desde que o motorista siga a norma que produz bons resultados, suas motivações são irrelevantes. Não para Kant. Para o prussiano, só o condutor que age "pelo sentido do dever" atua de forma autônoma, o que equivale a dizer de forma moral e livre.

O pastor Milton Ribeiro jamais deveria ter chegado ao posto de ministro da Educação. Faltam-lhe atributos essenciais para o cargo. Surgiram agora fortes indícios de que ele prevaricou e há chances reais de que perca o ministério. Meu lado consequencialista (preponderante) me faz aplaudir a perspectiva de defenestramento. Mas meu lado kantiano (vestigial) me faz lamentar que, se ele vier a ser apeado, o seja pelas razões erradas.

Pelo que li nas colunas de bastidores, o que complica a vida de Ribeiro não é o fato de ter violado a ética e quase certamente também o Código Penal, mas ter montado em seu ministério um esquema que tirou de parlamentares do centrão o poder de exercer influência na liberação de verbas.

Para o consequencialista, desde que Ribeiro deixe o cargo e Bolsonaro saia enfraquecido, as motivações dos agentes não importam. Para o kantiano, estamos lascados, pois não há chance de fazermos a coisa certa pela razão certa. Até para preservar um pouco de esperança, é melhor ser consequencialista do que kantiano. Mas essa é uma razão consequencialista para ser consequencialista. Kant não aprovaria.

Bolsonaro e Milton Ribeiro no Palácio do Planalto - Evaristo Sá - 4.fev.2022/AFP

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