Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Autores veem extrema direita como alternativa a liberalismo

Para eles, o liberalismo destrói a identidade etnocultural dos grupos

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Hoje recomendo um livro de terror: "A World After Liberalism", de Matthew Rose. É brincadeira, mas é sério. É brincadeira porque "A World..." não se encaixa bem no gênero terror se o pensarmos como a categoria literária a que pertencem "Frankenstein", "O Médico e o Monstro" e "Drácula". "A World..." não é uma peça de ficção, e sim uma coleção de pequenos ensaios que ficam entre o jornalístico e o sociológico. Mas é sério porque o livro de Rose, até mais do que os clássicos citados, mete medo.

Rose mostra que, por trás das sandices e dos impropérios lançados por militantes em redes sociais, existe um pensamento de extrema direita mais consistente e mais profundo. Ele perfila cinco autores que foram responsáveis por lançar algumas dessas ideias: Oswald Spengler, Julius Evola, Francis Parker Yockey, Alain Benoist e Samuel Francis. Confesso que conhecia minimamente Spengler, já tinha ouvido falar em Evola e ignorava os outros três.

São bem desiguais. Alguns se destacam pelo racismo, outros pelo nacionalismo, outros pelo antiglobalismo. O que há de comum entre eles é a ideia, mais radical, de que o liberalismo é um mal, não só na prática, ao encorajar o hedonismo e o egoísmo, mas também no nível moral.

Na visão deles, o liberalismo, cujos pilares teóricos são a igualdade diante da lei, os direitos das minorias, a tolerância e o pluralismo, destrói os verdadeiros fundamentos da ordem social, que está calcada na identidade etnocultural do grupo, da qual o indivíduo não pode sair sem negar a si mesmo.

Não devemos, obviamente, imaginar que os Bolsonaros e seus símiles tenham estudado a fundo esses autores (ou qualquer outra coisa). O ponto é que, apesar de permanecerem em grande parte desconhecidos, eles colocaram no mercado a ideia de que as crenças liberais são nefastas e existe uma alternativa a elas baseada em noções como povo, pátria e deus. E isso é bastante assustador.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 17 de abril de 2022, mostra uma cena de um filme de terror: são cinco Frankensteins e três Dráculas, além de um morcego, numa noite de lua cheia, sob o céu violeta. Algumas dessas figuras estão em posições ameaçadoras, com braços estendendidos e mãos com dedos em forma de garras e unhas longas. Os Frankensteins têm a pele em tom esverdeado e vestem ternos cinzas-escuro, camisas cinzas e coturnos pretos. Os Dráculas usam ternos e sapatos pretos, coletes, camisas e gravatas-borboleta brancas, além de capas pretas com os forros vermelhos.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman de 17/4/2022 - Annette Schwartsman

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