Alunos da Unicamp impediram candidatos do partido Novo de falar num evento que teria lugar na universidade. Para esse grupo de estudantes, ligados à União da Juventude Comunista, o vereador paulistano Fernando Holiday e seus correligionários são fascistas e não devem, portanto, ter espaço de fala na Unicamp.
Ninguém é obrigado a gostar de Holiday nem do Novo, mas o partido está no campo da direita democrática. E, mesmo que tivesse pendores mais autoritários, como a própria União da Juventude Comunista, que parece beber de fontes stalinistas, penso que deveria ter o direito de expor suas ideias.
De alguns anos para cá, militantes de diversas correntes políticas, mas principalmente da esquerda, resolveram trocar o debate de ideias pela desplataformização, que é basicamente o silenciamento. Há dois elementos a destacar aqui. O primeiro é geracional. Os brasileiros que cresceram depois da redemocratização não viveram a experiência de ser privados da liberdade de expressão e, por isso, não têm a exata dimensão de sua importância. É uma posição curiosa para comunistas, considerando que, nos países em que não tomaram o poder, sempre foram vítimas preferenciais da censura.
O segundo é que essas novas gerações parecem ter trocado o debate de ideias pelo posicionamento moral. Se identificamos os adversários como defensores de teses moralmente inaceitáveis, não precisamos mais conversar com eles. Pelo contrário, o correto passa a ser denunciá-los e calá-los. O problema é que essa estratégia não é consistente. Ainda que possamos traçar linhas vermelhas em algumas questões morais, a maior parte delas comporta debate e até negociação. Um conservador não precisa se tornar um entusiasta do aborto para aceitar a despenalização.
No mais, se não deixarmos os que pensam de forma diferente de nós exporem suas ideias, como poderíamos chegar à conclusão de que elas estão erradas?
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