Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Precisamos de um STF?

Richard Bellamy defende o fechamento das cortes e alega que magistrados padecem dos mesmos vieses das pessoas comuns

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Espero que o STF não mande me prender. É que hoje vou falar de um autor que defende o fechamento desta corte. Aliás, de todas as cortes constitucionais. Trata-se de Richard Bellamy, professor de ciência política do University College London. Eu não o conhecia. Quem me chamou a atenção para ele foi meu filho David, entusiasmado com a ideia.

David não é um bolsonarista feroz. Muito pelo contrário, é um jovem estudante de filosofia e, como tal, não resiste ao prazer estético de sistemas que não dependam de valores exógenos. Bellamy propõe um desses. Está em um capítulo de livro: "Republicanism, democracy, and constitutionalism" in "Republicanism and Political Theory".

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 17 de julho de 2022, mostra, sob um fundo rosa choque, um grande malhete -típico martelo de madeira usado pelos juízes- prestes a golpear uma edificação em estilo neoclássico que lembra um tribunal.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman de 17 de julho de 2022 - Annette Schwartsman

A ideia é simples. A democracia funciona não porque produza bons resultados ou nos aproxime da vontade geral. Ela funciona porque é vista como um processo justo de produzir soluções políticas. Pessoas discordam legitimamente umas das outras. Nessas ocasiões, é razoável que se decida a contenda pelo voto. Quando aceitamos esse processo, em que cada indivíduo é tratado com igual consideração, evitamos a violência política.

E isso basta. Não precisamos de mais do que essa regra para chegar às soluções políticas. Não obstante, quase todos os países escrevem uma Carta e criam cortes constitucionais encarregadas de atuar como árbitros finais, com o poder de invalidar leis.

O ponto de Bellamy é que os magistrados constitucionais não são melhores do que ninguém. Eles padecem dos mesmos vieses das pessoas comuns e, quando discordam entre si, resolvem o impasse pelo voto. Ora, se é para resolver pela pluralidade, melhor que sejam os representantes eleitos, não uma elite sem voto. Segundo o autor, o risco de a maioria usar o poder do Estado para explorar uma minoria é, na prática, menor do que parece.

Bellamy não me convenceu muito. Ainda tenho medo da tirania da maioria. Mas suas ideias merecem consideração.

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