"Rei morto, rei posto", ou "Le roi est mort, vive le roi", no original francês. Diante do que parece ser uma derrota inevitável de Jair Bolsonaro, empresários e até mesmo políticos que despontavam como firmes apoiadores do presidente já começam a cortejar Lula ou, pelo menos, enviar sinais de que estão dispostos a conversar. Vejo esse movimento com bons olhos.
Objetivamente, a debandada reduz ainda mais as exíguas chances de apoio político a alguma aventura extrainstitucional de Bolsonaro. Numa nota mais pessoal, confesso que sinto uma espécie de prazer cívico ao ver o pior presidente da história do país ser derrotado —e quanto mais humilhante for a derrota, mais me regozijarei.
Até aqui Lula tem jogado bem. Ele vem aceitando, quando não buscando ativamente, os apoios de todos, incluindo daqueles que teria motivos para considerar desafetos. A ideia é tentar vender sua candidatura como uma frente ampla para resgatar a democracia e decência pública. Lula tem carisma, lábia e vender sonhos e miragens é algo que ele sabe fazer bem. Nesta fase, a estratégia tende a funcionar. Acho até que ele tem chance de liquidar a fatura já no próximo dia 2.
O problema é que, a partir da segunda-feira ou daqui a quatro semanas, o jogo será outro e Lula precisará montar uma equipe para governar. Não poderá mais só colecionar adesões. Vai ter de explicitar ganhadores e perdedores, bem como definir os termos em que se darão as negociações políticas em sua gestão. Vale lembrar que nem nas projeções mais otimistas o PT fará muito mais que 15% da Câmara. O centrão estará onde sempre esteve.
Meu receio é que Lula esteja superestimando a força da Presidência. Depois de mudanças nas regras de tramitação das medidas provisórias e nas emendas parlamentares ao Orçamento, o Planalto de hoje pode bem menos que o de 2003. Se ele tem um plano para lidar com isso, não deu nenhum sinal de qual seja.
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