Vencer a eleição foi a parte menos difícil. O verdadeiro desafio de Luiz Inácio Lula da Silva será governar. Ele não pode se dar ao luxo de errar e sabe disso. Jair Bolsonaro foi derrotado; restou, porém, uma massa de 49% dos eleitores, com diferentes preferências ideológicas, mas unidos pelo antipetismo. Uma fatia deles nem esperou as urnas voltarem aos almoxarifados para ir às ruas defender um golpe contra o presidente eleito.
Jair Bolsonaro, que não terá mandato e corre sério risco de perder seus direitos políticos e de ser preso, deve ter um pouco de sua influência reduzida. Trump perdeu, embora, ao contrário de Bolsonaro, domine seu partido. O fato, inconteste, é que Lula não poderá ignorar esses 49% do eleitorado que lhe são antipáticos ou até hostis. O Congresso, que caminhou algumas casas para direita, não ignorará.
Até aqui o petista joga bem. Tem enfatizado em seus discursos que governará para todos, buscará a união do país e dividirá o poder com outras forças políticas. Já deu sinalizações de que fala a sério, como entregar o comando da transição a Geraldo Alckmin e não a algum petista histórico. Essa, porém, é a parte fácil. O jogo fica mais difícil daqui em diante, quando Lula começar a fazer escolhas, de nomes e de políticas, que criarão perdedores.
Lula precisa entrar em campo antes mesmo de assumir o mandato. Se o Congresso lhe legar um Orçamento inexequível, inviabilizará seu governo "ab ovo". O Parlamento, embora tenha se tornado mais conservador e mais radical, está aberto a negociações. E, para aprovar emendas constitucionais, Lula precisará trazer para seu campo, ainda que só circunstancialmente, nacos do que foi a base parlamentar de Bolsonaro.
Se alguém tem capacidade política para navegar entre tantos obstáculos, é Lula, mas isso não é garantia de sucesso. Não há nenhuma lei da física estabelecendo que seu governo vai necessariamente dar certo.
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