Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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EUA podem tentar modelo Netflix para desenvolver novos antibióticos

Lei Pasteur deixaria de remunerar laboratórios por vendas e garante verba fixa

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Não é só a Covid-19. Já estamos vivendo uma outra pandemia, mas, como ela transcorre em câmera lenta, acaba não recebendo a devida atenção. Refiro-me ao problema das bactérias resistentes a antibióticos. A combinação das leis da evolução darwiniana com um uso não muito responsável de drogas antimicrobianas faz com que infecções resistentes já cobrem um alto preço em vidas. Um estudo do governo britânico estima que cepas resistentes já provoquem, em escala global, 700 mil mortes por ano. E, se nada for feito, projeta-se, para 2050, 10 milhões de óbitos anuais.

Lidar com isso exigirá várias medidas em várias frentes. Um dos problemas centrais é que se investe pouco no desenvolvimento de novos antibióticos. E isso ocorre porque essa é uma área onde as chamadas falhas de mercado correm soltas. Lançar uma droga nova é estupidamente caro, algo em torno de US$ 1 bilhão. Parte importante desse custo são as despesas com os estudos que permitirão o licenciamento. E aqui não faz muita diferença se a droga é um antibiótico, um antidiabético ou um anticancerígeno.

Uso indiscriminado de antibióticos aumenta resistência de cepas - Callum/Adobe Stock

Para a indústria, portanto, o mais lógico é buscar remédios contra doenças de alta prevalência e que exijam uso contínuo, por toda a vida. Antibióticos, tipicamente usados por uma ou duas semanas, largam em desvantagem. Pior, quando uma nova classe de antimicrobianos é lançada, a tendência dos médicos é reservá-la como recurso final, o que prejudica ainda mais as vendas.

Se quisermos ver novos antibióticos, precisamos resolver essas falhas de mercado. Uma das propostas em discussão nos EUA é a Lei Pasteur, a Netflix dos antimicrobianos. Se ela for aprovada os laboratórios não seriam mais remunerados por vendas, mas receberiam uma verba fixa do governo federal para fornecer as drogas nas quantidades que forem necessárias.

Não deixa de ser irônico que tenhamos de chamar economistas para salvar a medicina.

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