Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Os discursos e os atos

Ao prorrogar desoneração dos combustíveis, Lula torna sua manobra irresponsável de Bolsonaro

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O papel e a atmosfera, por onde se propagam as ondas sonoras, aceitam tudo, daí que devemos ter cautela na interpretação dos discursos de posse de Lula. É como a Bíblia. Dá para pinçar deles o que desejarmos.

Os mais entusiasmados com a nova administração ressaltarão que Lula prometeu, sim, bondades, mas foi inequívoco ao afirmar que em seu governo não haverá "gastança" e que a responsabilidade com as finanças foi a marca de suas gestões anteriores, que produziram até superávits fiscais. Os mais céticos lembrarão que o presidente falou em estruturar um novo PAC e ficou muito perto de prometer a volta dos juros subsidiados a campeões nacionais, duas políticas que causam arrepios nos economistas que não acreditam muito em sortilégios de inspiração keynesiana.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião no Itamaraty, em Brasília - Adriano Machado/Reuters

Não penso que as aporias tenham solução, daí que defendo que prestemos mais atenção nos atos do governo do que em intenções manifestadas em discursos. Para permanecer nas metáforas religiosas, acho que a justificação passa pela fé e pelas obras, não apenas pela fé. E o que nos dizem as obras?

A primeira medida econômica do novo governo, o prolongamento da desoneração dos combustíveis, me deixa mais preocupado do que tranquilo. Como informou a Mônica Bergamo, o ministro Fernando Haddad, que pretendia retomar os impostos, perdeu a queda de braço para a ala política da administração, que não quer nem ouvir falar em aumento da gasolina na primeira semana de governo.

Acho que é um erro, econômico e político. Econômico porque estamos falando de abrir mão de dinheiro grosso, algo como R$ 50 bilhões por ano. E político porque, se Lula tivesse deixado o decreto da desoneração vencer no dia 31/12, estaria só expressando a verdade se explicasse que a medida era uma manobra populista irresponsável que Bolsonaro fizera na tentativa de vencer a eleição. Agora, ao estender a desoneração, Lula torna sua a manobra irresponsável.

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