Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu Congresso Nacional

De volta ao impeachment

Livro revisita a deposição de Dilma nos fazendo pensar de trás para a frente

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Foi Søren Kierkegaard quem afirmou que a vida, embora seja vivida prospectivamente (um dia após o outro), só pode ser compreendida retrospectivamente, isto é, quando analisamos os eventos pregressos longe das emoções e à luz do que sabemos atualmente. Algo parecido vale para os acontecimentos históricos.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 4 de junho de 2023, mostra, sob um fundo amarelo, a ex-presidente Dilma Roussef vestindo camisa vermelha e calça e sapatos pretos; ela está sentada numa poltrona verde lendo o livro "Operação Impeachment" e sorrindo.
Ilustração Annette Schwartsman

"Operação Impeachment", de Fernando Limongi, é uma obra que nos lança nesse exercício kierkegaardiano. Eu e a maioria dos leitores acompanhamos de perto os eventos que levaram ao afastamento de Dilma Rousseff. E essa foi uma experiência que vivemos prospectivamente. Algo bem diferente, e elucidativo, é revisitar esses acontecimentos conhecendo os resultados que produziram. Melhor ainda quando guiados por um autor do calibre de Limongi.

Ao longo de 180 páginas, Limongi detona alguns mitos. Mostra, por exemplo, que Dilma não era uma nulidade em termos de ação política. Ela reagiu politicamente às manobras para tolher-lhe o mandato e em várias disputas teve sucesso, ainda que tenha perdido a batalha final. O autor também oferece um bom cabedal de explicações convincentes.

Dilma caiu porque a coalizão que a sustentava foi rompida diante do pânico que a operação Lava Jato passou a instilar entre os parlamentares. Em algum momento, esses políticos decidiram que o governo já não era capaz de dar-lhes proteção e pularam fora. Limongi vai aos detalhes, incluindo as articulações entre Moro e os procuradores, as maquinações de Eduardo Cunha, as rivalidades entre grupos dentro do PT.

O que eu senti falta no livro foi da economia. Ela só aparece "en passant", mas, se há uma lição de Marx que não deveríamos esquecer é a de que a infraestrutura (economia) costuma prevalecer sobre outras forças sociais. Se a economia sob Dilma estivesse crescendo a 5%, 6% ao ano, acho que dificilmente teríamos tido o impeachment. Talvez nem a Lava Jato tivesse assumido as proporções que ganhou.

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