Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Física existencial

O passado ainda existe? Partículas pensam? Livro discute com rigor questões instigantes da ciência

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Fui dormir mais aliviado depois de ler "A Ciência Tem Todas as Respostas?", de Sabine Hossenfelder. É que, a uma dada altura do livro, ela diz que não podemos estar seguros de que é correta a ideia, muito popular entre os físicos, de que no futuro distante (para lá de 10100 bilhões de anos) o Universo conhecerá sua morte térmica. Sim, é isso mesmo, leitor, o fim derradeiro não é uma certeza, porque não sabemos se, nessas escalas de tempo, as atuais leis da física continuarão válidas. É bem verdade que Hossenfelder também diz que não podemos descartar a possibilidade de que ocorra a qualquer momento um decaimento espontâneo do vácuo, que dilaceraria instantaneamente toda a matéria do Universo. Mas, eterno otimista que sou, me fixei mais na primeira do que na segunda possibilidade.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 1 de outubro de 2023, mostra, sob um fundo escuro, riscos e aglomerados azuis, representando o universo, e no centro, um buraco negro.
A ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman, esta publicada também na versão impressa da Folha deste domingo (1º de outubro de 2023) - Annette Schwartsman

Esse é o segundo livro de Hossenfelder que leio (o primeiro foi "Lost in Math") e me tornei fã. Ela junta didatismo com rigor conceitual e não tem medo de tocar nas feridas. Classifica várias teorias populares entre físicos, como o Big Bang e o multiverso, como acientíficas, não passando de mitos de criação modernos escritos em linguagem matemática. Segundo ela, não há e dificilmente haverá evidências que permitam descartar ou corroborar essas teorias, o que as aproxima de narrativas religiosas.

Em "A Ciência...", Hossenfelder diz algumas vezes que é física e não filósofa da ciência. Mas o simples fato de ela repetir a assertiva já indica que não é ingênua na matéria. O fato de aparecerem na obra referências a Popper, Hume, Carnap e Russell só reforça essa impressão.

Munida desse arsenal, a autora aborda alguns dos temas mais instigantes da física. O passado ainda existe? Partículas pensam? O Universo foi desenhado para nós? A versão em inglês da obra ganhou o título "física existencial".

Não sei se Hossenfelder vai fazer o leitor dormir melhor ou pior, mas ela certamente vai fazê-lo pensar.

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