Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Reunião Ciro-Haddad é simbólica, mas não pode ser comprada por valor de face

Histórico desaconselha acreditar que PT pode apoiar o pedetista, embora o cenário seja fluido

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O simbolismo do primeiro encontro entre PT e Ciro Gomes para discutir a céu aberto o que fazer no pleito presidencial sem Lula não é irrelevante, mas não deve ser exagerado ou comprado por seu valor de face.

Em ato da campanha municipal de 2016, Ciro discursa ao lado de Haddad, sob o olhar de Lula em evento no Sindicato dos Bancários de São Paulo
No lançamento da campanha de 2016, Ciro discursa ao lado de Haddad, sob o olhar de Lula - Lalo de Almeida - 24.jul.2014/Folhapress

Ao contrário: são exatamente seus elementos simbólicos que insinuam facetas ocultas nas intenções presentes num cenário em que Ciro, Fernando Haddad e Luiz Carlos Bresser-Pereira sentam-se como convidados de Delfim Netto. É cena de livro de Agatha Christie, para começar.

Uma constatação inicial lógica seria de que Lula enfim percebeu que estará fora do jogo, por mais vibrante que seja a torcida de alguns ministros do Supremo para recolocá-lo no páreo e algumas boas notícias que recebeu de Brasília.

Haddad, que de “novo homem” passará agora a “novo advogado” para ouvir recados do chefe, não daria uma volta de bicicleta na Paulista sem que Lula o orientasse a tanto. O fato de a carta que o líder preso fez divulgar na véspera falar para o partido ficar “à vontade” acerca de candidatura prenunciou o movimento.

Por outro lado, uma admissão de derrota tão cedo jogaria pelo ralo a estratégia de Lula, ainda que faça todo o sentido se ele quiser preservar algo do partido que fundou. Só que a história do líder é imbuída do contrário: sacrifique-se o PT em seu nome.

Seria então tudo uma cortina de fumaça enquanto uns iludidos e outros oportunistas gritam “Bom dia, presidente Lula” ao raiar do sol curitibano? Será que Lula ainda crê ser possível disputar a eleição no tapetão?

São perguntas tão válidas como a mais óbvia: o PT estaria disposto a apoiar Ciro? A resposta epidérmica, baseada em anos de relacionamento e os episódios recentes, é não em um primeiro turno. Mas a fluidez viscosa do cenário eleitoral deste ano e a crescente instabilidade econômica são tão grandes que desautorizam negativas peremptórias para qualquer coisa. Ganham os petistas ao deixar a dúvida no ar.

Uma chapa Ciro-Haddad com a benção de Lula vinha sendo aventada há tempos. A questão é que votos do ex-presidente hoje não deságuam com tanta naturalidade do lago do pedetista; Marina Silva hoje é tal receptáculo, com Joaquim Barbosa surgindo na terra arrasada com destaque momentâneo.

Fora que toda a popularidade do mundo não apagará o passivo ético que uma aliança com o PT carrega para qualquer eleição; mesmo Lula seria um candidato favorito à derrota em segundo turno. Se a marca de fogo da Lava Jato não tisna a testa de Ciro, vejamos o que acontece se ele aparecer com a estrelazinha vermelha na lapela.

O resto é aparência, nota de rodapé. Delfim, que nas últimas décadas só não se deu bem nos anos FHC no poder, aparece como o dono do sofá em que o namoro se desenrola. Bresser-Pereira, por sua vez, parece estar lá para agradar o pessoal fazendo ponto na PF em Curitiba e dar um verniz ao show de horrores desenvolvimentista esposado por Ciro e pelo PT.

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