Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Igor Gielow

Antipetismo e antipolítica estarão em 2020, mas não como em 2018

Como diz especialista em estratégia eleitoral, brancos e nulos podem predominar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Qual será o poder agregador de um Luiz Inácio Lula da Silva solto durante a campanha municipal em 2020 e, principalmente, isso aponta alguma tendência para o pleito presidencial dois anos depois?

Bolsonaro tira foto com celular durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília
Bolsonaro tira foto com celular durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília - Adriano Machado - 10.dez.2019/Reuters

Essa é uma questão que tem rondado conversas políticas desde que o líder petista ganhou as ruas. Após jogar para sua plateia e prometer uma radicalização que não veio, até para não fazer o jogo desenhado pelo presidente Jair Bolsonaro, Lula está fechado em copas.

O problema das respostas neste momento é que elas invariavelmente ocorrem com o filtro de 2018 instalado sobre as lentes divinatórias. A disputa do ano passado foi única em seu formato e nos resultados, ainda que a reverberação de suas correntes submarinas na costa siga em curso.

Parece muito difícil, portanto, que dois temas não surjam —com variações. O primeiro é a rejeição à política tradicional. Mas isso talvez signifique menos a emergência de nomes exógenos, como Bolsonaro ou Wilson Witzel foram em 2018.

Para a vice-presidente do Ideia Big Data, instituto de análise política, Cila Schulman, a tendência é que o “branco e nulo seja o grande vencedor” nos pleitos principais do ano que vem, a começar por São Paulo.

Tendo a concordar com ela, que de resto já acertou coisa mais importante com seu sócio Maurício Moura. Em meados de 2017, ambos já anteviam Bolsonaro presidente quando a ideia era considerada algo lisérgica nos meios políticos.

Ainda assim, é importante notar a grande reorganização de partidos mais estruturados, na esteira da debacle do ano passado. O PSD tem um plano para se tornar uma das siglas majoritárias do país, o DEM está bem posicionado em várias capitais e o PSDB tem trunfos pontuais. MDB e o centrão tendem a manter sua capilaridade.

O quanto isso colará no eleitorado é algo inaferível no momento. Grandes capitais terão grandes disputas, mas aqui a segunda tendência de 2018 parece que se manterá: o antipetismo.

Tomemos São Paulo, o grande troféu reclamado a cada quatro anos. Por mais que Lula vocifere e articule chapas rocambolescas, as chances do PT na capital paulista soam diminutas —considerando o histórico do partido na disputa, claro. Se tiver forças para um segundo turno, já estará de enorme tamanho.

Não é exatamente diferente no resto das maiores praças. O partido poderá recuperar algo da terra arrasada de 2016 devido ao fato de que sua organização ainda é bastante horizontal, o que será importante nesta eleição enfim sem coligações na votação proporcional, no caso as Câmaras Municipais.

Portanto, o cenário sugere Lula fadado a ser o que ele é para setores como o mercado financeiro ou o bolsonarismo: um espantalho. Na mão contrária do efeito sobre os últimos, que dele se alimentam, Lula servirá para afastar uns corvos, mas não garantirá a colheita.

O quanto tudo isso se refletirá nas composições para 2020? Aí depende do freguês. O governador e presidenciável João Doria (PSDB-SP) tem dito que a polarização tenderá a continuar, restando então um apelo renovado ao eleitorado mais moderado e, no seu caso, iscas para disputar a direita.

Lulistas, por sua vez, também viram na mais recente pesquisa do Datafolha a consolidação de dados acerca do conservadorismo do eleitorado mais pobre que antes estava sob suas asas.

É um dado além do usual encastelamento desse segmento na “Fortaleza Nordeste” do petismo, e que pode registrar uma movimentação caso a melhoria econômica saia do “wishful thinking” da Faria Lima e chegue ao emprego e renda de alguma forma. Isso diz respeito a 2022, não ao ano que vem.

Como isso se encaminhará passará pelo papel algo olímpico que Bolsonaro, ora sem partido, deverá ter. Apesar das prestidigitações, sua Aliança pelo Brasil dificilmente terá candidatos nominais em 2020. Isso pode ser uma bênção ao fim para o bolsonarismo, isolando o presidente e evitando julgamento eleitorais locais de seu governo. Ou não: a antipolítica pode se voltar contra ele, ora no trono mais evidente do país.

Por óbvio, essa é a fotografia desta semana, deste nanossegundo, e o caminho é sujeito a tantos desvios que seria preciso uma versão tropical do “Codex Giga” para descrevê-los. Como dizem que dizia Pedro Malan, no Brasil até o passado é incerto.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.