Discurso de Lula sobre protagonismo do PT aprofunda racha na esquerda

Movimentação tem potenciais parcerias com partidos mais à direita, como DEM e PSDB

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Salvador

A saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão e seu discurso em defesa de um protagonismo do PT aprofundou o fosso entre os principais partidos de esquerda e tornou ainda mais distante um possível cenário de unificação de candidaturas nesse campo já nas eleições de 2020. 

Manuela D'Ávila (PC do B) e Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidatos, assistem a discurso de Lula - Danilo Verpa - 22.nov.19/Folhapress

Enquanto os petistas movimentam-se para lançar candidatos próprios nas principais capitais do país, potenciais aliados como PDT e PSB articulam um caminho independente e dialogam com partidos mais ao centro.

A movimentação inclui um acordo nacional com PV e Rede, para o lançamento de candidaturas únicas nas maiores capitais, e potenciais parcerias com partidos mais à direita, como DEM e PSDB.

“É uma conversa nacional. A gente quer construir uma alternativa fora do ódio de Bolsonaro ao PT e do PT a Bolsonaro. Construir um projeto para o Brasil e para os municípios”, afirma o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.

A ideia inicial é uma articulação PDT, PSB, Rede e PV para lançar candidaturas unificadas nas maiores capitais e, a partir dessa experiência, buscar uma candidatura unificada no campo da centro-esquerda para 2022.

Ao mesmo tempo, o PDT abriu conversas com o DEM em Salvador, e a tendência é que os dois partidos estejam juntos na sucessão do prefeito ACM Neto.

Para isso, os pedetistas vão assinar a ficha de filiação do secretário da Saúde da capital baiana, Leonardo Prates, um dos aliados mais próximos de Neto, que é presidente nacional do DEM. Oficialmente, o PDT diz que Prates será candidato a prefeito, mas a tendência é que ele saia como vice de Bruno Reis (DEM).

Em Fortaleza, o PDT já é aliado do DEM e agora ensaia uma reaproximação com o PSDB do senador Tasso Jereissati. O tucano está afastado dos irmãos Ciro e Cid Gomes desde 2004 e vinha disputando eleições no campo da oposição.

Nos dois casos, o objetivo do PDT é ampliar o arco de alianças para consolidar o nome do presidenciável Ciro Gomes como uma opção mais ao centro na eleição de 2022.

Segundo Lupi, caso queira ser competitiva, a centro-esquerda deve buscar alianças com setores do capital produtivo: “O DEM não é mais aquela partido sectário, de direita. O PSL ocupou esse lugar”.

O próprio Ciro Gomes tem apontado esse caminho ao elogiar publicamente o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-R|J), e reforçar suas críticas ao ex-presidente Lula.

O PT, por sua vez, começa a se debruçar sobre possíveis candidaturas em 2020 em seu 7º Congresso Nacional, que acontece neste fim de semana em São Paulo.

No primeiro ato partidário após deixar a prisão no dia 8, Lula afirmou em Salvador que o PT “não nasceu para ser um partido de apoio” e reforçou que a legenda deve defender nas urnas o legado de seus mandatos na Presidência.

Para o senador Jaques Wagner (PT-BA), o partido deve buscar uma unidade possível no campo da esquerda. Ele destaca, contudo, que, em uma eleição municipal, as realidades locais se impõem.

“É óbvio que eu sempre vou defender a ampliação do campo social, dos partidos que são visceralmente contra o que representa esse governo que está aí [Bolsonaro]. Mas nem sempre é possível, os partidos têm legitimidade para escolher seus candidatos”, afirma.

Das dez maiores capitais, o PT tende a abrir mão da cabeça da chapa em apenas duas: no Rio, onde deve apoiar o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), e em Porto Alegre, onde tende a aliar-se a Manuela D’Ávila (PC do B), que foi vice do presidenciável Fernando Haddad (PT) em 2018.

Nas capitais menores, há possibilidade de apoio ao PC do B em Aracaju, onde o prefeito Edvaldo Nogueira disputará a reeleição, e em São Luís, onde o deputado federal Rubens Pereira Júnior deve concorrer com o apoio do governador Flávio Dino (PC do B). Ainda são consideradas alianças com o PSOL em Belém e Florianópolis.

Na maioria da capitais, contudo, a tendência é de um racha, com mais de uma candidatura na esquerda. Em São Paulo, por exemplo, pode chegar a quatro o número de postulantes nesse campo.

O candidato considerado mais competitivo é ex-governador Márcio França (PSB), que teve um bom desempenho na eleição para o governo do estado em 2018 e busca traçar uma trajetória distante dos petistas.

O PT, por sua vez, cita Paulo Teixeira, Carlos Zarattini ou Jilmar Tatto como possíveis candidatos, mas o ex-presidente Lula fez acenos a uma nova candidatura de Marta Suplicy, que se desfilou do partido em 2015, foi para o MDB e agora está sem legenda.

Enquanto isso, o PSOL articula a candidatura de Guilherme Boulos ou Sâmia Bomfim à prefeitura, e o PC do B lançou a pré-candidatura do deputado federal Orlando Silva.

O mesmo deve acontecer no Rio de Janeiro. Enquanto PT e PSOL devem se unir em torno de Freixo, PDT, PSB, Rede e PV formaram um bloco independente e deve m disputar com Martha Rocha (PDT) ou Alessandro Molon (PSB).

No Recife, a tendência é uma divisão entre PSB e PT, a despeito de os dois partidos terem voltado a se aliar nas eleições de 2018.

Os pessebistas devem lançar o deputado federal João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em 2014, como candidato à sucessão do prefeito Geraldo Julio (PSB). Pelo PT, a pré-candidata é a deputada Marília Arraes, prima de Campos e neta do ex-governador Miguel Arraes.

Ao visitar o Recife no último domingo (17), Lula teve postura dúbia em relação ao cenário local: almoçou com João Campos e jantou com Marília Arraes. Publicamente, não declarou apoio a nenhum dos dois.

 

RACHA NA ESQUERDA

Cenário de pulverização começa a ser desenhado nas principais capitais do país

SÃO PAULO
Paulo Teixeira, Carlos Zarattini ou Jilmar Tatto (PT)
Orlando Silva (PCdoB)
Sâmia Bomfim, Carlos Giannazi ou Guilherme Boulos (PSOL)
Márcio França (PSB)

RIO DE JANEIRO
Marcelo Freixo (PSOL)
Alessandro Molon (PSB)
Martha Rocha (PDT)
Brizola Neto (PCdoB)

SALVADOR
Nelson Pelegrino, Robinson Almeida ou Jorge Solla (PT)
Olívia Santana (PCdoB)
Hilton Coelho (PSOL)
Lídice da Mata ou Silvio Humberto (PSB)
Léo Prates (PDT)
Guilherme Bellintani (Sem partido)
Vilma Reis (Sem partido)

FORTALEZA
Samuel Dias ou José Sarto (PDT)
Luizianne Lins (PT)
Renato Roseno (PSOL)

BELO HORIZONTE
Áurea Carolina (PSOL)
Duda Salabert (PDT)
Rogério Correia  ou Beatriz Cerqueira (PT)

MANAUS
José Ricardo (PT) 
Vanessa Grazziotin (PCdoB)
Luiz Castro (Rede)

CURITIBA
Gustavo Fruet ou Goura (PDT)
Luciano Ducci (PSB)
Miriam Gonçalves, Tadeu Veneri ou Angelo Vanhoni (PT)

RECIFE
João Campos (PSB)
Marília Arraes (PT)
Tulio Gadêlha (PDT)
Severino Alves, Paulo Rubem Santiago ou Zé Gomes (PSOL)

PORTO ALEGRE
Manoela D' Dávila (PCdoB) 
Fernanda Melchionna (PSOL)
Beto Albuquerque ou Airto Ferronato (PSB)
Juliana Brizola (PDT)

Fonte: Diretórios partidários

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