Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ilona Szabó de Carvalho

Questões de vida ou morte

Temos a extraordinária chance de fazer novas e melhores escolas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Estamos vivenciando o fim do mundo como o conhecemos. Fomos forçados a pausar, parar por tempo ainda indeterminado, o que considerávamos, até então, ser a nossa “vida normal”. Que momento excepcional para se estar vivo.

Foi nos dada uma possibilidade única de refletir sobre nossos hábitos, prioridades, valores, e de estar cara a cara com a complexidade e com os desafios mundiais que ajudamos a moldar.

A pergunta central é o que vamos fazer com essa oportunidade de transformação e regeneração que se apresenta na forma de uma ameaça mortal?

No fundo, muitos já sabíamos que mais cedo ou mais tarde haveria um acerto de contas com o nosso planeta. Mas com exceção de cientistas que previram a doença X, Bill Gates e poucos outros estudiosos que alertaram anos atrás sobre a necessidade de prevenção e coordenação global para enfrentar uma pandemia, a maioria de nós não poderia jamais imaginar a disrupção que um novo vírus como o causador da Covid-19 poderia gerar em nosso modo de vida.

A pandemia vem em um momento de escassez de lideranças nacionais responsáveis no Brasil e no mundo. Não há mito ou messias para nos salvar. Pelo contrário, o Messias que está no poder nos coloca na direção do precipício.

Para sairmos vivos dessa, teremos que nos comprometer individualmente e agir coletivamente. Como lembrou o historiador Yuval Harari em artigo recente, o antídoto para a epidemia não é a segregação, mas a cooperação.

Precisamos confiar nos especialistas e cientistas, nas evidências, seguir os protocolos de prevenção e, principalmente, apoiar os que servem na linha de frente em um momento tão crucial como esse, entregando cuidados médicos e serviços essenciais nas cidades e estados de nosso país.

Para esses, e para nós, questões de vida ou morte se colocam a cada dia. Sabemos que ninguém escapou ileso. Mas apesar de afetar a todos, as consequências mortais da pandemia estão concentradas em grupos específicos e vulneráveis de nossa população, seja pela idade ou pela condição social. E como vamos responder enquanto sociedade para protegê-los?

Como vamos salvar os idosos sem matar de fome e desespero a maioria da população que depende do seu ganho diário para comprar o pão de cada dia? Como vamos conter a epidemia em favelas e aglomerados urbanos com condições sanitárias precárias e serviços para lá de deficientes sem restringir ainda mais os direitos de pessoas já tão desrespeitadas? Como não matar as centenas de milhares de pessoas confinadas em prisões sub-humanas sem aumentar os imensos problemas de segurança que já enfrentamos?

A forma como respondermos a essas questões determinará como será o restante dos nossos dias na Terra. Temos a extraordinária chance de fazer novas e melhores escolhas. Estamos preparados? Vamos abrir mão de privilégios descomunais que sustentam desigualdades abismais para construir uma sociedade mais simples, justa e sustentável?

Não acredito em profecias, mas tampouco acho que foi mero acaso a pandemia chegar em 2020, ano marcado como determinante para o cumprimento das metas e compromissos definidos no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas.

A crise sem precedentes gerada pela Covid-19 pode ser a nossa última oportunidade de acertar os rumos e assumir a responsabilidade coletiva de deixar um mundo habitável para nossos filhos e netos.

Como diz Christiana Figueres em seu livro “The Future We Choose” (O Futuro que Escolhemos), ainda sem tradução para o português, precisamos mudar o nosso modelo mental. Não posso deixar de dizer: aproveite bem o tempo da quarentena. Planeje sua nova vida, comece a implementar as mudanças e seja você um agente da construção do futuro que queremos viver.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.