Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

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Ilona Szabó de Carvalho

Ninguém pode ficar para trás

Muitos finalmente perceberam que somos interdependentes

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A Covid-19 escancarou os desafios de sociedades desiguais. Somos todos vulneráveis ao vírus Sars-CoV-2. Mas mundo afora medidas tentam reduzir o impacto da pandemia nas populações que serão mais afetadas, tanto pelo vírus quanto pelo lado socioeconômico deste que se apresenta como o maior desafio de nossa geração.

Muitos finalmente perceberam que a humanidade é uma só, e que somos interdependentes. Portanto, só sairemos dessa crise (e das próximas que virão) se entendermos que temos que colocar em prática o lema de não deixar ninguém para trás.

No Brasil, por exemplo, foi aprovado o auxílio emergencial para trabalhadores informais de baixa renda, importante, mas ainda insuficiente diante da duração e magnitude da crise. Além disso, multiplicam-se iniciativas da sociedade civil voltadas para atender necessidades imediatas de alimentação e higiene das populações mais vulneráveis.

Esse compromisso com a solidariedade e a proteção das pessoas também é fundamental para que possamos garantir a segurança e as condições de trabalho dos profissionais que estão na linha de frente desta ingrata batalha.

Além dos heróis da saúde, da assistência social e dos milhares de trabalhadores responsáveis por assegurar as redes de abastecimento e serviços essenciais, precisamos reforçar nosso compromisso com os policiais que seguem nas ruas e nas delegacias, bem como com os agentes, funcionários e detentos das unidades prisionais.

Menos de um mês desde o decreto anunciando o estado de calamidade pública no Brasil em razão da pandemia, os números disponíveis já denunciam o desafio e a necessidade de adoção de medidas urgentes para proteger esses profissionais.

No Rio de Janeiro, aproximadamente 300 policiais militares já foram afastados por suspeita de contágio. Em São Paulo, já são cerca de 600 policiais civis e militares fora do trabalho.

Na semana passada, a sargento da PM de São Paulo Magali Garcia, 46, foi vítima de complicações da Covid-19. A realidade de outros países reforça a urgência de avançarmos na proteção das forças policiais: em Nova Iorque, 1 em cada 6 policiais está afastado por complicações de saúde ou para realizar a quarentena. Em Detroit, um quinto da força policial está sob quarentena.

No sistema penitenciário brasileiro, a insalubridade da maioria das unidades e a dificuldade de se seguirem as recomendações de higiene e isolamento tornam vulneráveis não apenas os cerca de 800 mil presos, como também os 83 mil servidores que trabalham nessas unidades.

Para esses profissionais, o medo de virar alvo alia-se ao receio de se tornar vetor da doença, uma vez que depois do expediente, esses profissionais têm contato com pessoas no transporte público, no supermercado, em suas casas.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) recomendou uma série de medidas para reduzir os riscos no sistema prisional, incluindo a prisão domiciliar para presos por delitos de menor gravidade que já estão no regime aberto ou semiaberto.

Mas tais medidas ainda sofrem muita resistência. Será que ainda não entendemos que podemos estar sentenciando à morte as pessoas privadas de liberdade, agentes públicos e seus familiares? Infelizmente, ainda há uma parcela de nossa população que precisa resgatar seu senso de humanidade e responsabilidade.

Que o façam a tempo de evitar mais sofrimento humano em um país já tão injusto e desigual.
Do lado positivo, por todo o Brasil, multiplicam-se iniciativas para apoiar o enfrentamento da pandemia.

No Rio de Janeiro, por exemplo, o Movimento União Rio, do qual o Instituto Igarapé faz parte, combina frentes de apoio à ampliação de leitos no estado, distribuição de alimentos em comunidades e a doação de equipamentos de proteção individual a profissionais da segurança pública e do sistema prisional.

A união de forças é um imperativo do momento e do depois. Para resgatar o convívio social, o ir e vir e a saúde pública e econômica no longo prazo, precisamos entender e implementar a principal lição dessa crise: não deixar ninguém para trás.

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