A repercussão bombástica dos diálogos entre membros da procuradoria e o então juiz Sergio Moro, publicados pelo site jornalístico The Intercept Brasil, puseram na segunda divisão o julgamento público do caso Neymar, que até então monopolizava o debate nas redes.
Às 21h57 de domingo (9), poucas horas depois da divulgação do furo internacional obtido pela equipe do jornalista Glen Greenwald, a hashtag #VazaJato registrava 118 mil posts no Twitter. Após um primeiro momento de perplexidade por parte dos entusiastas da operação, às 9h26 da manhã de segunda (10), veio a resposta: #EuApoioaLavaJato levantava 104 mil tuítes.
@ggreenwald: “O arquivo fornecido pela nossa fonte sobre o Brasil é um dos maiores da história do jornalismo. Ele contém segredos explosivos em chats, áudios, vídeos, fotos e documentos sobre @deltanmd, @SF_Moro e muitas facções poderosas. Nossas reportagens acabaram de começar”, anunciou o fundador do Intercept.
As reações, de lado a lado, refletiram a impermeabilidade de costume entre as bolhas políticas do Twitter: uns denunciando conluio entre acusação e magistrado na condenação do ex-presidente Lula; outros, “vazamento criminoso” de diálogos privados entre autoridades.
‘Eu avisei’
Um dos primeiros a destacar as revelações foi o escritor @paulocoelho: “Vale lembrar que @ggreenwald é um dos mais sérios e respeitados jornalistas do mundo, responsável por divulgar para o mundo as arbitrariedades do NSA trazidas à luz por @Snowden.”
Na sequência, foi a vez da ex-presidente @dilmabr: “Processos corrompidos pela fraude na Lava-Jato implicam em liberdade imediata de Lula.”
O governador do Maranhão pelo PCdoB e ex-juiz federal aprovado no mesmo concurso em que passou Sergio Moro recorreu à metáfora esportiva: @FlavioDino “Imaginemos um juiz de futebol que orienta um dos times, combina com um dos times antes de apitar cada lance, enquanto hostiliza o outro time. Isso é um jogo justo? Ou um jogo de cartas marcadas? Esse é o debate central que emerge das reportagens do @TheInterceptBr.”
Ponto de vista corroborado pelo diretor-executivo da Transparência Brasil, @mgaldino “A atuação irresponsável de Moro (e da turma do MPF) destruiu a credibilidade da Lava-Jato. Teremos um retrocesso gigante no combate à corrupção. Forças-tarefas ficarão sob suspeita. Quem trabalha com combate à corrupção, como eu (e nunca fui fã do Moro), sabe que vai piorar.”
Na Câmara, parlamentares do PSOL anunciaram pelo Twitter providências que serão tomadas pelo partido. Entre eles, @IvanValente “Diante dos fatos gravíssimos revelados pelo site @TheInterceptBr vamos entrar com as seguintes iniciativas na Câmara: requerimento de convocação para@SF_Moro depor no Plenário e outro para depor na CCJ. Vamos entrar também com representação contra @deltanmdDallagnol no CNMP.”
Interceptação
Às 6h22 da manhã de segunda, o líder do governo na Casa puxou a reação: @MajorVitorHugo “As forças que não querem que o combate à corrupção avance são poderosas e ardilosas. Nossa solidariedade ao Ministro @SF_Moro, na certeza do acerto de suas ações e decisões.”
O ex-ministro do governo FHC convertido ao bolsonarismo também fez seu desagravo: @xicograziano “Decente, direto, calmo, diligente, transparente. Isto é @SF_Moro! Crime cometeu o hacker. Crime cometeram os ladrões do dinheiro público. Este é um caso de assassinato do verdadeiro jornalismo.”
O cantor Roger Moreira usou de ironia para expressar seu ultraje pela reportagem: @roxmo “Intercept. Entendi”, retuitando em seguida o post do deputado do PSL do Paraná @filipebarrost “Uma coincidência gigantesca os celulares de Moro e do Desembargador Relator da Lava-Jato serem invadidos por hackers e, logo em seguida, o site de esquerda The Intercept divulgar supostas mensagens de membros da força tarefa. Eu não costumo acreditar em coincidências.”
A posição oficial do ministro da Justiça, minimizando o episódio, só foi tuitada às 22h33 de domingo: @SF_Moro “Muito barulho por conta de publicação por site de supostas mensagens obtidas por meios criminosos de celulares de procuradores da Lava-Jato. Leitura atenta revela que não tem nada ali apesar das matérias sensacionalistas.”
Da jurista @JanainaDoBrasil, nenhum pio no Twitter sobre o escândalo até a tarde de segunda-feira (10), quando esta coluna foi escrita. O silêncio mais eloquente, porém foi o do presidente @jairbolsonaro, que —houve quem comentasse nas redes— ganhou a conveniência de ter um ministro intocável transformado em demissível.
Adeus, desbunde
A morte, na sexta-feira (7), do octogenário roqueiro Serguei provocou uma pequena comoção no Twitter. Muito por conta do sucesso do perfil humorístico em sua homenagem, tocado desde 2009 pelo blogueiro @tucahernandes. Ao longo de uma década, @sergueirock acumulou 101 mil seguidores e produziu pérolas como: “Sei não, mas pelo nível do ódio que tem rolado por aí desconfio que o brasileiro tem transado mal pra burro” e “Antigamente, pra pessoa diminuir o tesão bastava tomar uma bela ducha fria. Hoje em dia, dar uma olhada no que tem sido publicado na internet pode ter o mesmo efeito.”
No dia 7, Hernandes tuitou seu derradeiro tributo ao ídolo: @sergueirock “O nascimento é a estreia de um show no Planeta Terra. Mas a turnê nunca acaba. Ela só continua em outras dimensões. Tenham a certeza de que o Serguei continuará recebendo o amor de todos vocês. LONG LIVE ROCK’N ROLL!!!”
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