Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Pior do que está fica

Entrevista de Tiririca à Folha repercute no Twitter

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Se o circo pegou fogo no Twitter com as novas revelações da parceria Folha/The Intercept Brasil e os atos de apoio a Sergio Moro, contra o Congresso e o STF no fim de semana, a segunda-feira (1º) começou com um palhaço nos Trending Topics do Brasil. Às 13h55 de segunda, o deputado federal @dep_TIRIRICA subia no picadeiro com 19 mil tuítes por causa da entrevista em que criticou o presidente @jairbolsonaro.

A conversa ganhou repercussão entre parlamentares, como o economista e deputado federal por Minas Gerais @ReginaldoLopes “Em entrevista para a Folha, o colega deputado Tiririca aconselha o presidente Bolsonaro a sair do pedestal sob pena de protagonizar o pior governo de todos os tempos.”

E também entre acadêmicos, como o doutor em direito internacional pela USP e assessor da Conectas Direitos Humanos, @jnascim “Tiririca reconhece que estava errado: sempre dá para ficar pior do que já está.”

O segundo filho e tuiteiro-mor do clã presidencial não achou graça: @CarlosBolsonaro “Não sou dono da verdade, apenas um pouco experiente. A população mais uma vez deu seu recado e os parlamentares já começaram a mostrar sua empáfia, ignorando quem os elegeu. Os próximos começarão a surgir rapidamente desafiando o povo, com o apoio de grande parte da imprensa!”

Voz (cada vez mais) rouca

Apesar da exaltação de Carluxo, o que ecoou nos comentários da rede foi a percepção de que as manifestações perderam força, mas se radicalizaram. Para o colunista do UOL, autodeclarado de centro-direita, @reinaldoazevedo “Atos bem abaixo do esperado evidenciam estragos provocados por revelações.”

Em direção semelhante foi a observação, ainda no domingo (30), do editor do Estúdio Fluxo, que documenta os atos do bolsonarismo desde as eleições do ano passado, @torturra “Tarde na Paulista. Dois aspectos fundamentais. O primeiro já citei. Manifestações menores, pouco entusiasmo. Discursos repetidos. O segundo é importante: guinada mais à direita. Fortalecimento dos grupos antes periféricos: Direita São Paulo, Olavistas e autointitulados reaças.”

A discordância entre ativistas de direita e de extrema direita também foi objeto de um post, no mesmo dia, do historiador @FernandoHortaOf “Eu vivi para ver Aécio e Alckmin ameaçados de linchamento na Paulista lotada de fascistas que eles tinham criado. Eu vivi para ver o MBL e o tal Kim serem agredidos, ofendidos e ameaçados pelos fascistas nas marchas da farinha de hoje.”

Em três tuítes consecutivos com imagens e mensagens dos atos, o ministro da Justiça repetiu a mesma expressão: “Eu vejo, eu ouço”. Concluindo, no de maior repercussão deles (com 107 mil curtidas e 15 mil compartilhamentos): @SF_Moro “Eu vejo, eu ouço, eu agradeço. Sempre agi com correção como juiz e agora como Ministro. Aceitei o convite para o MJSP para consolidar os avanços anticorrupção e combater o crime organizado e os crimes violentos. Essa é a missão. Muito a fazer.”

Moro ganhou menções de apoio e de repúdio no Twitter, por exemplo, entre professores da Faculdade de Direito do Largo São Francisco.@JanainaDoBrasil “A cada dia, fica mais claro que o material bombástico do Intercept só tem potencial para detonar a narrativa da própria esquerda. Mesmo editados, os diálogos mostram que os Procuradores não estavam fechados com Moro e que estão longe de serem Bolsonaristas.”

@conradohubner “Sergio Moro ‘vê, ouve e agradece’ o apoio a seu projeto de ir para o STF, oferecido por apoiadores que pedem o fechamento do STF.”

Curti/ Não curti

A forma irreconciliável, aliás, com que bolhas opostas da internet interpretam os diálogos entre Moro e procuradores que vêm sendo revelados na Vaza Jato são exemplares da dissonância cognitiva que impede um debate razoável no país. No centro do tablado: a sentença que condenou Lula.

Na manhã de domingo, um tuíte da colunista da Folha resumiu os fatos, que trazem constrangimentos —não equivalentes, diga-se— a ambos os lados: @monicabergamo “Léo Pinheiro, em junho de 2016, dizia q obras em triplex e sítio eram agrados a Lula, e não contrapartidas. A negociação c os procuradores trava. Depois, Leo muda a versão e incrimina o petista. Leia abaixo matéria feita qdo as tratativas empacaram.” Na sequência, o link para a reportagem, de 2016 (“Delação de sócio da OAS trava após ele inocentar Lula”, 1º/6/2016).

Para alguns, as conversas expõem definitivamente os malabarismos feitos pela força-tarefa para condenar Lula por um crime que ele não cometeu: @Luizdonzeli “Ex-presidente da OAS agora fala a verdade. O Tríplex do Guarujá não foi uma ‘contrapartida’, mas um ‘AGRADO’ ao presidente Lula. Juridicamente trata-se de crimes diferentes.”

Para outros, significaram a admissão geral de que o ex-presidente recebeu favores de uma empreiteira: @afagundes “Padrão ético dessa turma ‘Lula Livre’: agrado de empreiteira, tudo bem.”

Férias (quase) frustradas

A viagem de @jairbolsonaro para a cúpula do G20 no Japão, que começou em desastre com a apreensão de 39 kg de cocaína em um dos aviões da comitiva e críticas da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente francês, Emmanuel Macron, ao brasileiro, foi salva do fiasco completo pelo acordo Mercosul-UE.

Ainda assim, o resultado das negociações —que levaram duas décadas e envolveram diplomatas a serviço de diferentes governos— não foi celebrado por todos. Dentro de um mesmo partido, o MDB, parlamentares da ala oposicionista ao governo tuitaram visões distintas.

@renancalheiros “Toda vez que @jairbolsonaro é menos Bolsonaro o Brasil melhora. Agora, manteve o Mercosul e o acordo de Paris. Deveríamos pensar numa lei que o obrigasse a ser cada vez menos ele mesmo, e a se manter sempre a 10 mil quilômetros do Twitter.#MercosurUE #Mercosul

@requiaopmdb “Por vinte anos Brasil resistiu a um acordo predatório de livre comercio com a União Européia. Agora se o Congresso não colocar um freio de arrumação na tolice, deixaremos de existir como Nação, viraremos colônia.”

Sobre princípios e pragmatismo

O Twitter anunciou nesta semana novas normas de difusão de conteúdos abusivos ou de ódio por personalidades públicas na plataforma.

A partir de agora, se um funcionário de governo ou candidato a cargo público com mais de 100 mil seguidores e selo de conta verificada fizer postagens ofensivas, terá seus tuítes cobertos por um aviso.

Ainda assim, em um segundo clique, o usuário poderá visualizar o conteúdo —segundo o Twitter, para que o autor possa ser “responsabilizado” publicamente por suas declarações.

Uma saída conveniente do ponto de vista do negócio, que assim mantém seus campeões de seguidores sem ignorar os crescentes questionamentos sobre ética na rede.

O show, afinal, deve continuar.

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