Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Jaime Spitzcovsky
Descrição de chapéu União Europeia

Testemunha de mudanças históricas, Olaf Scholz quer evitar nova Guerra Fria

Premiê alemão vê mudança tectônica de época com invasão da Ucrânia

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O jargão da política internacional incorporou mais um termo em 2022: "Zeitenwende", usado por Olaf Scholz para descrever mudança tectônica de época, iniciada, na sua descrição, com a invasão da Ucrânia.

Em ensaio na prestigiosa Foreign Affairs, o premiê alemão esquadrinha o panorama multipolar e rejeita o desenho de nova Guerra Fria no cenário atual, modelado pelo acirramento da competição entre potências globais.

O premiê alemão, Olaf Scholz - Kenzo Tribouillard - 15.dez.22/AFP

Nascido em 1958, Scholz integra geração com rara expertise em alterações de cenários globais. Foram, em cerca de sete décadas, três eras distintas.

Os anos 1950 correspondiam aos primórdios da Guerra Fria, nascida após o fim da tragédia imposta pela Segunda Guerra Mundial e caracterizada pela bipolaridade entre EUA e URSS. Vigorava o chamado "equilíbrio do terror", pois os arsenais nucleares das superpotências exibiam (e ainda guardam) a capacidade de aniquilamento mútuo —ameaça a impedir a ideia de um embate militar envolvendo, diretamente, americanos e soviéticos.

Portanto, Moscou e Washington travavam disputas por áreas de influência sem colocar seus soldados frente a frente no campo de batalha. Caso contrário, o confronto traria catastróficas consequências nucleares.

A Guerra Fria se dissolveu em ritmo estonteante na década de 1980, devido ao fracasso do modelo soviético. Simbolizam a mudança histórica a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a desintegração da URSS, em 1991.

O jovem Scholz, naqueles anos turbulentos, já militava na social-democracia alemã. Testemunhou a reunificação de seu país e o alvorecer do mundo unipolar e da hiperglobalização.

Sem concorrentes de peso no cenário internacional após a debacle da URSS, os EUA passaram a exercer gigantesca hegemonia nos campos político, econômico, militar e cultural. A globalização, empurrada pela revolução tecnológica, intensificou fluxos de bens, capitais, informações.

O período também foi modelado pela impressionante industrialização de países asiáticos, em processo capitaneado pela China. Reformas econômicas deslanchadas por Deng Xiaoping em 1978 semearam ingredientes responsáveis pelo desenho do século 21.

Às vésperas do início daquele período histórico, Scholz elegeu-se deputado em 1998, após participar de organizações internacionais de jovens esquerdistas. Foi secretário-geral do SPD, partido da social-democracia alemã, de 2002 a 2004. Observou, naqueles anos, a expansão da União Europeia.

Em 2008-9, nova virada: a crise financeira internacional escancarou fragilidades e desequilíbrios de economias europeias e dos EUA, com empobrecimento de setores da classe média cujos empregos e renda haviam migrado para países asiáticos.

A China, em 2010, se transformou em dona da segunda maior economia do planeta, ao ultrapassar o Japão. Começava o mundo multipolar, impulsionado também pelo crescimento econômico da Índia.

Em meio a mais uma mudança internacional, Scholz avançava na carreira política e alcançou, em 2018, o cargo de ministro das Finanças. Ficavam para trás visões ideológicas mais ortodoxas da juventude dos idos da Guerra Fria.

No poder desde dezembro de 2021 e sem o brilho internacional da antecessora Angela Merkel, Scholz mergulha no debate sobre o cenário global, resgata o termo "Zeitenwende" e fala da importância de evitar a divisão do mundo em blocos antagônicos. Que os tempos atuais aprendam com as lições trágicas do século 20.

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