João Pereira Coutinho

Escritor, doutor em ciência política pela Universidade Católica Portuguesa.

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João Pereira Coutinho

Candidatos perigosos deveriam ser subornados para abandonarem a política

Se já existe ajuda humanitária para catástrofes naturais, por que não para catástrofes políticas?

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O poeta é um fingidor, já dizia um compatriota meu. O cientista político também. Fechado em casa, tentando preparar uma conferência sobre democracia —como protegê-la, como melhorá-la e blá blá blá— sinto tédio, genuíno tédio, com os autores canônicos.

É um tédio passageiro, admito, mas minha vontade era propor duas medidas radicais para melhorar a qualidade desse sistema de governo.

Donald Trump e a mulher, Melania, durante primárias na Flórida na terça (19) - Giorgio Viera/AFP

A primeira medida era permitir aos eleitores recusar todos os candidatos que se apresentam na eleição. No boletim de voto, depois dos nomes deles, haveria a opção "nenhum dos anteriores".

Se essa opção vencesse, os partidos seriam obrigados a apresentar novos nomes, até um deles suplantar a recusa democrática.

Que eu saiba, só Peter Hitchens, irmão do famoso e saudoso Christopher, defendeu a medida em público. Inspirado pelas eleições primárias no Nevada onde Nikki Haley perdeu para "nenhum dos anteriores" —sim, existe essa hipótese por aquelas bandas—, Peter gostaria de ver a mesma possibilidade na política inglesa.

Eu também —na política portuguesa e, com todo respeito, na brasileira também. E eu até gosto de Nikki Haley, ao contrário de Peter. Votaria nela.

A segunda medida seria permitir que todos os países tivessem um Fundo Nacional de Higiene Democrática. O FUNAHIDE, digamos assim. Objetivo? Subornar candidatos indesejáveis.

Explico melhor. Sempre que um líder populista, iliberal e antidemocrático tivesse reais chances de vencer o pleito, o FUNAHIDE entraria em ação com aquela pergunta que os pais fazem ao namorado delinquente da filha: "Qual seu preço?"

Depois de ajustado o valor, o candidato assinaria um contrato com a nação em como jamais, em tempo algum, voltaria a concorrer a um cargo público.

Tenho a certeza que o suborno, por mais exorbitante que fosse, seria sempre inferior ao estrago político, institucional, moral e até econômico que esses espécimes provocam durante seu mandato.

Donald Trump, por exemplo, enfrenta graves dificuldades financeiras para pagar as fianças de seus processos judiciais. Além disso, tem arrecadado menos dinheiro que o rival Joe Biden na corrida à presidência. Simplificando: o homem está depenado.

Não seria melhor para todos se um FUNAHIDE americano passasse um cheque ao nosso Donald?

Em tempos, o vigarista das criptomoedas Sam Bankman-Fried sugeriu US$ 5 bilhões para que Trump se afastasse da política. Por mim, poderiam ser US$ 10 bilhões —quatro vezes mais que toda sua fortuna estimada pela Forbes.

No limite, poderia haver até um fundo internacional para que toda gente contribuísse para o mesmo fim. Se já existe ajuda humanitária para catástrofes naturais, por que não para catástrofes políticas?

Animado com tais ideias, guardo meu Alexis de Tocqueville para mais tarde. Sejamos mais ousados.

E se alguém, no decorrer da conferência, chamar os enfermeiros para me removerem do palco, por favor, defenda meu nome. Minhas intenções eram nobres.

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