Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca
Descrição de chapéu Rússia Europa

Nada de apaziguamento agora

Entre a União Europeia e uma ditadura expansionista, a escolha não é difícil, mas será pela força

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O imperialismo norte-americano é ruim; mas você já viu as alternativas? Nesta segunda-feira (21) tivemos o gostinho de uma delas: o preparo explícito de uma ofensiva russa contra a Ucrânia.

Claro que, hoje em dia, nenhum país admite ter ambições. Não faltaram motivos alegados no discurso agressivo de segunda à noite para reconhecer oficialmente a independência de territórios ucranianos que hoje estão parcialmente nas mãos de grupos separatistas pró-Rússia.

Agora já abriu o terreno para invadir militarmente a Ucrânia. Acusou até o governo ucraniano e as nações ocidentais de patrocinarem terrorismo islâmico.

O presidente da Rússia Vladimir Putin durante pronunciamento em que anunciou o reconhecimento de regiões separatistas da Ucrânia como independentes - Alexey NikolskyAFP

Mas Putin foi além. Em seu discurso, a Ucrânia nada mais é do que uma criação do Estado russo soviético.

"Como resultado da política bolchevique, surgiu a Ucrânia Soviética, que mesmo hoje pode com boa razão ser chamada de "Ucrânia de Vladimir Ilyich Lênin". Ele é seu autor e arquiteto. (...) E agora os descendentes agradecidos demoliram monumentos a Lênin na Ucrânia. Vocês querem decomunização? (...). Estamos prontos para mostrar a vocês o que uma real decomunização significa para a Ucrânia."

Putin tornou explícita sua ameaça: com o fim do comunismo, a Ucrânia independente perdeu sua razão de ser (e, supõe-se, outras ex-nações soviéticas também). Ou seja: a julgar por suas palavras, não apenas a independência de certas regiões conflituosas como a própria subjugação de toda a Ucrânia seria uma política plenamente justificada.

Com o fim da Guerra Fria, o mundo parecia destinado a abraçar a democracia e os direitos humanos. O nacionalismo era coisa do passado. O sonho de uma Europa unida e harmônica, na qual a soberania de cada país importaria menos do que a prosperidade e a união de valores, parecia factível. E, depois dele, o mundo? Hoje parecemos nos distanciar cada vez mais desse projeto.

E por que é ruim a Rússia dominar uma parte maior do mundo, reduzindo a esfera de influência do Ocidente? Porque é governada por um regime avesso aos valores mais caros de nossas sociedades: democracia, liberdade de imprensa, direitos humanos, livre iniciativa.

Sua estratégia é inundar o ocidente de fake news e colocar as democracias liberais em pé de guerra civil ao mesmo tempo em que expande seu domínio militar.

Sabemos hoje que o governo russo tentou interferir diretamente nas eleições de outros países —inclusive dos EUA— por meio de desinformação, ataques de hackers e uso de milhares de perfis falsos para promover a cizânia e o extremismo. O objetivo era polarizar ainda mais o debate americano, enfraquecendo o país.

O diálogo tem se mostrado inútil. A própria popularidade de Putin depende desse tipo de aventura militar. Se perceber fraqueza na determinação ocidental de defender a Ucrânia, irá cada vez mais longe. E ele não é a única ameaça. A China observa qual será a reação das potências ocidentais para decidir como agir em Taiwan e no mar do Sul.

Infelizmente, a diplomacia é incapaz de resolver todos os conflitos. Os dias do poderio inconteste dos americanos acabaram. Mas nem por isso precisamos desistir de uma ordem baseada na cooperação, nas trocas voluntárias e na defesa dos direitos humanos.

Entre a União Europeia, que apesar dos problemas mantém verdadeiras democracias e protege os direitos individuais básicos e a liberdade de imprensa, e uma ditadura expansionista baseada na perseguição de adversários e desinformação maciça, a escolha não é difícil. Mas ela terá que ser garantida pela força.

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