Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca

O que é pior: petismo ou bolsonarismo?

No dia a dia dos debates, ambos se assemelham; mas só um dos lados mata

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Entre petismo e bolsonarismo há, inegavelmente, muitas semelhanças. Quem já irritou alguma das duas já sentiu isso na pele. Qualquer comentário que contenha a mais leve crítica contra o medalhão de cada lado direciona para seu autor o carinho de uma legião de mal-educados dispostos a ofender, distorcer e rotular (de "fascista" ou "comunista"), sempre com a mesma estratégia manjada: se criticou Lula, é um canalha apoiador de Bolsonaro; e vice-versa.

Ambos os lados são propensos a espalhar fake news e teorias da conspiração a seu favor. As do petismo são a tese de que a Lava Jato foi um plano do governo americano para vender a Petrobras e a de que a facada não aconteceu (que chegou a ser alimentada, ainda que indiretamente, por Lula). No bolsonarismo, todo o movimento anti vacina e a crença antecipada na fraude das urnas.

LULA X BOLSONARO
Montagem com fotos de Lula e Bolsonaro - Marlene Bergamo/Folhapresse e Adriano Machado/Reuters

Saindo das redes e indo para as ruas, contudo, salta aos olhos que o bolsonarismo tem algo que o petismo não tem: uma franja extremista de fanáticos propensos à violência. E, cada vez mais, estão armados. É por isso que vemos ataques de bolsonaristas armados, ou explosões de bombas contra atos da esquerda. E não vemos coisas semelhantes vindas da esquerda.

Na tentativa de mostrar uma igualdade de violência nas duas torcidas, há dois eventos que são recorrentemente trazidos contra a militância do PT e da esquerda de maneira geral: a facada em Bolsonaro em 2018 (o agressor, Adélio Bispo, tinha sido filiado ao PSOL até 2014) e o empurrão quase fatal de um ex-vereador petista contra um empresário de direita numa avenida movimentada.

O primeiro foi o ato de um indivíduo em estado psicótico, que julgava estar numa guerra contra a maçonaria, e por isso mesmo foi julgado incapaz pela Justiça. Não tinha nenhuma ligação com o discurso de seu ex-partido.

No segundo o conflito partiu do empresário de direita, que foi ao Instituto Lula gritar insultos. O conflito escalou, ele foi empurrado e bateu a cabeça. Foi uma agressão criminosa, mas não uma tentativa de assassinato premeditada.

Lula em alguns momentos já deu acenos condenáveis aos piores aspectos de sua militância: já levantou dúvidas espúrias sobre a facada, já louvou a agressão feita em sua defesa. Mas, no geral, ou paira acima ou refreia os impulsos mais violentos de seus seguidores, como quando defendeu Anitta das injúrias de sua militância, que a apedrejava nas redes por, embora declarar voto nele, não apoiar o PT como um todo.

Já Bolsonaro alimenta direta e constantemente as mentiras e o ódio que movimenta seus seguidores. Fala em fuzilar a oposição. Propaga calúnias contra jornalistas que já são alvo de violência. Repete sempre o discurso mentiroso de fraude nas eleições —como fez nesta segunda (18) na prática apresentação a embaixadores, que por si só já deveria justificar a deposição do cargo.

A teoria da conspiração adquiriu um papel mais central no bolsonarismo do que no apoio a Lula.

O discurso de Bolsonaro é fundamentalmente de acusação e ódio. Se ele perder, o PT volta e, com ele, o comunismo venezuelano. Todas as instituições independentes de Estado e da sociedade civil estão unidas para garantir essa retomada vermelha do poder.

Contra elas, erguem-se os bolsonaristas, que devem vencer, seja pelo voto ou pela bala. O próprio presidente incentiva a população a se armar para enfrentar lideranças políticas de oposição.

Nada disso é imutável. Mas, neste momento, o que há de pior em matéria de desinformação e violência é a direita pró-Bolsonaro. No dia a dia dos debates, ambos se assemelham; mas só um dos lados mata.

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