Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca
Descrição de chapéu jornalismo

Bolsonaro guarda um trunfo nas redes sociais?

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Apesar da pesquisa Ipec desta segunda-feira (15), tudo indica que a corrida deve se acirrar nas próximas semanas. A economia trabalha a favor de Bolsonaro, mas não é só isso. Com o início da campanha, a comunicação ganha ainda mais peso. E a fluência bolsonarista na linguagem das redes sociais não foi igualada por ninguém, nem mesmo pelo Lula, que construiu seu vínculo com o eleitorado numa outra era. Esse capital pode ser o bastante para elegê-lo. Mas quando vai para as redes, fica claro que está defasado.

Essa defasagem é recente. Dez anos atrás, nos tempos daquele artefato pré-histórico chamado blog, o petismo reinava na internet. Blogs a serviço do partido, que se faziam de sites de notícias, veiculavam narrativas favoráveis ao mesmo tempo em que demonizavam a imprensa séria, apelidada de PIG (Partido da Imprensa Golpista). O que mudou nesse meio tempo foram as redes sociais e aplicativos de mensagem, que engatinhavam na época e hoje dominam o espaço.

O presidente Jair Bolsonaro durante entrevista ao Flow Podcast - Reprodução

Há atores políticos que aprenderam a navegar essas novas águas: André Janones, que agora está com Lula, é um deles. O MBL é outro. Mas ainda são poucos. Cabe elencar alguns pontos dessa nova comunicação.

Primeiro: para chegar a muita gente, precisa fazer barulho. Precisa chocar. Uma fala justa e ponderada terá dificuldade para ir longe. Uma afirmação taxativa e exagerada tem muito mais chance de viralizar. Atacar e ridicularizar o inimigo conta mais, infelizmente, do que um argumento sensato. Bom gosto, elegância; esses estão fora.

Segundo ponto: a comunicação nas redes é, acima de tudo, horizontal. Você conversa com um igual, e não há carteirada, credencial, diploma ou jargão técnico que vença um debate por WO. Para a maioria que assiste, o uso da autoridade (mesmo quando válida) é visto como arrogante e até suspeito. Não é à toa que "especialista" virou quase um termo de insulto.

E, em terceiro lugar, a comunicação é pessoal. Tudo que é frio, institucional, profissional, distanciado não consegue se conectar com as pessoas. Ninguém conversa com uma instituição, e não ver um rosto do outro lado apenas alimenta fantasias negativas de quem está ali ou a quem serve. O autêntico (isto é, aquilo que parece autêntico a quem vê), mesmo tosco, é preferível à precisão fria.

A conversa de Bolsonaro no Flow Podcast na semana passada —cinco horas de conversa livre, não entrevista sob fogo cruzado— foi um acerto para ele. Com seu jeito tosco e debochado, conseguiu se humanizar. Ser o "tiozão do churrasco" e não o demônio encarnado, que alguns pintam, basta para conquistar a simpatia de muita gente. O vídeo já foi visto mais de 10 milhões de vezes.

Nesse sentido, Bolsonaro deixa ao menos um legado positivo na comunicação política: a sua live de quinta-feira. Sim, ele a usa para repetir as mentiras e abobrinhas de sempre, mas criar esse espaço periódico e pouco estruturado para falar dos assuntos do momento, responder a críticas comuns, apresentar o que ele considera bom é um jeito bom de solidificar o vínculo com seus eleitores.

Claro que o meio não é neutro quanto ao conteúdo da mensagem. Não foi à toa que imprensa tipográfica serviu de veículo para uma religião que colocava a leitura direta do livro como valor central. Também não é à toa que a política antissistema, personalista e extremista ganhe espaço hoje.

Habituar-se a esse novo tempo, mais democrático e também mais instável, é o único caminho para as instituições e para os líderes que busquem algo melhor do que a destruição que é o bolsonarismo. O domínio das redes só vai aumentar.

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