Jorge Abrahão

Coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, organização realizadora da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis.

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Jorge Abrahão

O uso de força desproporcional na vida, na guerra e nas eleições

Conivência de governos e atores sociais frente à violência causa mais danos do que benefícios para a sociedade

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Muitos de nós, na vida pessoal, já reagimos a uma situação adversa com força desproporcional, atingindo gente querida, amigos ou colegas de trabalho. Neste caso, o impacto se restringe a nosso núcleo mais próximo, o que nos dá a oportunidade de rever comportamentos, aprender e pedir desculpas.

Já na vida em sociedade, os danos são de outra ordem e passam mensagens para um grande número de pessoas.

Por isso, é necessário que as respostas sejam rápidas e contundentes. Caso contrário, colocamos em risco a base de valores da sociedade e, então, flertamos com o caos. Embora muitos defendam que já estamos nele.

Pablo Marçal (PRTB), após a caminhada em Cidade Tiradentes, na zona leste, caminha na rua 25 de Março, centro da cidade. - Bruno Santos/Folhapress

No caso das eleições municipais de São Paulo, ao permitir que Pablo Marçal faça ataques misóginos, acuse sem provas e xingue seus oponentes, as redes que promovem os debates — e seus mediadores mostram-se coniventes com este comportamento. Marçal deveria ter sido advertido e, na reincidência, excluído do debate.

Em São Luiz, no Maranhão, o candidato à reeleição, irritado com uma pergunta de seu opositor, simplesmente desferiu-lhe uma cabeçada, ao vivo. Deveria ter recebido o cartão vermelho na hora, sem apelação. Nos dois casos, a exclusão seria um exemplo de conduta e mostraria que há limites civilizados para as discussões. Seria também uma mensagem para reduzir a violência política entre grupos e amigos: há limites de respeito e de convivência que estão acima de nossas diferenças políticas.

O pedido de resposta não dá conta das baixarias perpetradas por candidatos oportunistas. Nestes casos, o infrator é beneficiado porque utiliza-se de recortes de suas falas para vendê-las como verdade nas redes sociais. Cenas deprimentes como estas afastam as pessoas da política. E quanto mais as pessoas se desinteressam pela política, maior é o terreno fértil para oportunistas que se utilizam da democracia como trampolim para a defesa de projetos pessoais e dos grupos econômicos que defendem. Nestes episódios, chama a atenção a falta de resposta dos mediadores ao comportamento violento dos candidatos. Não há pico de audiência que justifique esta leniência, pois algo maior está em jogo: a valorização da política e a defesa da democracia.

No campo da tecnologia, o poder das big techs está redesenhando o mundo. A seu bel prazer. Ou dos cinco homens poderosos que as dirigem. O que pensam da vida? Qual a sua visão de mundo? Quais seus objetivos? Na realidade, defendem seus interesses imediatos. E que se dane o impacto negativo que produzem na sociedade. Elon Musk os personifica. Neste caso, a força desproporcional está em utilizarem-se de suas empresas para moldar e manipular a mente de bilhões de pessoas, fortalecendo projetos políticos que defendem seus interesses.

É urgente que a sociedade encontre maneiras de responder a esta insanidade que tem profundo impacto na vida de todos nós. Até agora a resposta das instituições de governo é desproporcional, lenta e acovardada. Enquanto ela não vem, a velocidade de deterioração social avança em proporções jamais imaginadas e os riscos para a democracia aumentam exponencialmente.

Embora de outra natureza, a mesma lógica se repete nas guerras, o que só as estimula. Nestes últimos dias soubemos dos ataques de Israel ao sul do Líbano. A narrativa utilizada para justificar o ataque é a de terem detectado uma ameaça no país vizinho. Que credibilidade tem um governo diretamente envolvido — no caso o governo de Israel — para convencer a sociedade de suas decisões? A mesma que Maduro tem para declarar-se vitorioso sem mostrar as atas das urnas.

No caso do ataque de Israel, o que está em jogo é a paz no mundo. Imaginem se a moda pega e o argumento de sentir-se ameaçado justifique a invasão e bombardeio de um país por outro. Aqui, o uso de força desproporcional — como vem ocorrendo em Gaza há meses — não teve resposta à altura de países e instituições que poderiam evitar estes abusos ou pelo menos inibi-los.

O comportamento conivente de governos e atores sociais frente ao uso de força desproporcional tem causado mais dano do que benefício para a sociedade. A saída não está em ações autoritárias, mas em respostas rápidas e proporcionais aos potenciais danos causados por seus responsáveis.

No Brasil, temos um desafio nas eleições municipais deste ano, que terá impacto nas eleições de 2026 e dos anos subsequentes. Está em jogo o aprimoramento da democracia, que será sempre imperfeita, mas que precisamos preservar e continuamente melhorar. Para tanto é necessário darmos respostas proporcionais, rápidas e contundentes que preservem a democracia e valores caros a todos nós.

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