José Henrique Mariante

Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman

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O Brasil tá vendo. E a Folha?

Leitores reclamam de coberturas limitadas e distração do jornal com o BBB

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"Caro ombudsman, o que se passa com o departamento esportivo da Folha? Estão encerrando a atividade?", pergunta o leitor Oswaldo, preocupado com o seu São Paulo, que apenas na quinta rodada do Paulista conseguiu uma vitória. "Dentre os assuntos menos importantes, este é um dos mais importantes para mim."

A frase é ótima, traduz com simplicidade o sentimento que leitores temos diante de jornais, a curiosidade por qualquer coisa. Em igual medida ocorre a frustração, quando qualquer coisa não está lá.

Os jogos do São Paulo não estão na Folha porque Esporte agora só cobre os clássicos, explica a editoria a outro assinante. E como o clube ainda não enfrentou nenhum dos outros grandes do estado, por enquanto não teve São Paulo no jornal. Não que antes todas as partidas dos variados certames merecessem atenção, a Folha nunca foi disso, mas o registro mínimo era feito.

Quando o jornal Agora foi encerrado, em novembro do ano passado, muitos de seus assinantes, migrados para a Folha, pediram a sobrevivência da cobertura esportiva, uma das marcas do diário ao lado das manchetes sobre aposentadoria. Lograram apenas o noticiário de economia popular, que sempre proporcionou boa audiência, já integrado a Mercado.

Indagada sobre a questão, a Secretaria de Redação informa que o jornal "está transitando para uma edição qualitativa, em que possa oferecer enfoques diferenciados ao leitor, conteúdos que ele não encontra na maciça cobertura esportiva de TVs, streamings e redes sociais". Não será fácil convencer o são-paulino do primeiro parágrafo a desapegar-se dos jogos do time, por mais que o Paulistinha, como diria Juca Kfouri, sirva apenas para atrapalhar o calendário.

Ilustração brinca com o jogo da pesca de festa junina, mas ao invés de peixes de plástico, likes do facebook ficam dispostos na areia. Acima, uma vara de pescar
Carvall

Assim como não está sendo fácil convencer quem usava o Guia, para programar o fim de semana, de que o jornal agora só faz a chamada curadoria.

A Folha, porém, não convive apenas com pedidos de mais cobertura. Há quem peça o fim de algumas delas, como a do BBB, programa gerador de opiniões formadas sobre tudo, inclusive herpes, com muito engajamento nas redes sociais. "Há boa receptividade por parcela de nosso público para o material que publicamos", justifica a Secretaria.

Não haveria receptividade para mais programação de cinema e futebol? Muita, e para mais serviço, coberturas ao vivo e, por que não, até para o fait divers. Só que recursos andam escassos, e a Folha claramente vem fazendo escolhas pelo que percebe como mais importante para sua manutenção, a informação exclusiva. "Buscamos ampliar o alcance e a sustentabilidade do nosso jornalismo, o que se traduz em audiência digital paga."

Enquanto isso, O Globo publica que foi o jornal mais lido do país no ano passado.

Escolhas.

Impressões

O debate sobre pluralidade e liberdade de expressão prossegue no país graças aos filósofos de plantão que se põem a discutir questões complexas, como a conveniência ou não de um partido nazista para a democracia, com a naturalidade de um reality show. Confusão armada, leitores reclamaram de dois títulos dados pela Folha durante a cobertura.

O primeiro foi publicado após a demissão do apresentador Monark, do podcast Flow, na terça-feira (8): "Fala de Monark sobre partido nazista divide opiniões sobre liberdade de expressão". O enunciado foi considerado condescendente, uma tentativa de amenizar o discurso do podcaster. A maioria dos queixosos estava com sangue nos olhos, queria condenação sumária. O jornal, obviamente, não pode fazer isso, mas precisa tomar cuidado com o peso que dá para as coisas e com falsas equivalências. É sutil, mas repare como este outro título da Folha não permite inclinações: "Discriminação e racismo não são protegidos pela liberdade de expressão no Brasil; entenda".

No dia seguinte, foi a vez de um comentarista da Jovem Pan ser defenestrado. A Folha noticiou assim o fato: "Adrilles Jorge é demitido após suposta saudação nazista". É claro que a turma se enroscou com a presunção, sugerida pelo título, de o ex-BBB não ter feito o gesto. O assunto foi parar na crítica interna do ombudsman dirigida à Redação. Era preciso muito boa vontade para não ver a saudação no vídeo. No fim, a reportagem anoiteceu com outra formulação, menos interpretativa: "Adrilles Jorge é demitido após Jovem Pan ver nazismo em gesto".

A questão não é escapar da polêmica, mas ter inteligência e equilíbrio para não se tornar uma. O papel do jornal é elevar o debate, ainda que o país insista em voltar à quinta série.

Expressões

Adrilles Jorge foi o segundo comentarista da Jovem Pan a ser demitido por antissemitismo em poucos meses. O problema, está claro, passa longe da liberdade de expressão.

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