José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Descrição de chapéu Portugal

O que valem os novos técnicos portugueses no país do futebol?

Lusos têm qualidade necessária para entender o futebol moderno de que o Brasil precisa

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Antes do dia em que Abel Ferreira aterrissou em São Paulo para se tornar técnico do Palmeiras, ele nunca havia estado no Brasil. Seguia as pisadas de um outro técnico português, Jorge Jesus, que pouco tempo antes havia operado milagres no Rio de Janeiro.

Desde então, os treinadores portugueses viraram moda no Brasil, e hoje, às portas da escolha do novo técnico da seleção canarinha, os nomes de Abel e Jesus constam entre os mais badalados para a cadeira dos sonhos da CBF.

O técnico do Palmeiras, o português Abel Ferreira, durante partida contra o Athletico Paranaense na Arena da Baixada, em Curitiba
O técnico do Palmeiras, o português Abel Ferreira, durante partida contra o Athletico Paranaense na Arena da Baixada, em Curitiba - Rodolfo Buhrer - 25.out.22/Reuters

Os números falam por si: atualmente apenas a liga portuguesa tem mais portugueses que o futebol brasileiro. Abel à cabeça na defesa do título palmeirense do Brasileirão; repetentes, Vítor Pereira (Flamengo), Luís Castro (Botafogo) e António Oliveira (Coritiba), que neste ano têm a companhia de Pedro Caixinha (Red Bull Bragantino) Renato Paiva (Bahia) e Ivo Vieira (Cuiabá).

Mas nem sempre foi assim. Aliás, na verdade, antes as coisas eram ao contrário. Eram os técnicos brasileiros a fazer sucesso em Portugal e na Europa, ocupando as cadeiras dos sonhos do Velho Mundo.

Em quase meio século, bons desempenhos da seleção das quinas em grandes torneios internacionais se devem a brasileiros: Otto Glória (1966) e Felipão Scolari (2004). Depois tudo mudou.

Hoje o lugar do futebol brasileiro no terreno das nações empobreceu. No campo esportivo e principalmente em nível econômico. O Brasil não ganha a Copa faz 21 anos, e nesse tempo tudo mudou.

Agora, a forma de monetizar o showbizz do futebol é totalmente diferente. Comprar ingresso e gritar "goooool" na arena no time do coração não é mais o "ó do borogodó". Hoje, o negócio gira em torno da consistência de ecossistemas globais em que "clube" e "time" estão longe de conseguir sobreviver sozinhos. O Brasil tardou a compreender essa necessidade de organização e perdeu o bonde da história.

As transmissões televisivas, atualmente geridas de forma superprofissional por entidades supraclubísticas —como são por exemplo as ligas profissionais europeias—, conferem ao futebol as características de uma indústria planetária ao nível de Hollywood.

O Brasil perdeu o bonde por lacunas internas de organização mas também por falta de percepção da mudança dos seus dirigentes. Essa lacuna histórica drenou seus talentos mais jovens, que vão à Europa ainda adolescentes; empobreceu seus campeonatos e retirou o país das grandes vitórias mundiais.

Por isso a chegada dos treinadores portugueses é uma esperança para o futebol brasileiro. Porque eles têm a qualidade necessária para entender o futebol moderno de que o Brasil precisa e aceitam receber os salários que o país pode pagar.

Com a chegada dos lusos, o Brasil tem a chance de "sair do sufoco" e "retomar a posse de bola" no cenário mundial. A esperança é a de que, com o apoio deles, o futebol brasileiro possa outra vez "brilhar" e conquistar títulos importantes, provando que ainda tem "muita bola para rolar" no país do futebol.

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