José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Por que candidatos a premiê de Portugal não estão falando de xenofobia

Ausência de discussão abrangente sobre imigração reflete principalmente uma cautela política, não uma opção estratégica

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Em um país como Portugal, a ausência de discussão sobre a imigração nas estratégias eleitorais dos líderes dos dois principais partidos, o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD), pode parecer irresponsável —e, de certa forma, é— mas esse silêncio também precisa ser atribuído a uma série de fatores complexos que refletem o atual contexto político luso.

Nos últimos anos, o governo do premiê António Costa enfrentou várias polêmicas e instabilidades, culminando em sua renúncia após ser nomeado suspeito em um caso de corrupção e após o presidente da República não ter aceitado uma solução sem recurso a eleições antecipadas.

Grupo de ultradireita protesta contra imigração em Portugal, em Lisboa
Grupo de ultradireita protesta contra imigração em Portugal, em Lisboa - Patricia de Melo Moreira - 3.fev.2024/AFP

Esta instabilidade política, marcada por escândalos, demissões no governo e conflitos públicos com Marcelo Rebelo de Sousa, contribuiu para desviar a atenção das principais forças políticas de temas como a imigração, mas isso não significa que o compromisso com o acolhimento dos estrangeiros, nomeadamente brasileiros, diminua depois da votação em 10 de março.

O cenário político português está passando por uma transição, com cinco dos oito partidos com assento parlamentar concorrendo com novas lideranças. Isso inclui não apenas o PS e o PSD, mas também a Iniciativa Liberal, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português.

Essa renovação de lideranças está na origem da reavaliação das prioridades e das estratégias eleitorais, em que temas como a imigração podem não ter sido vistos como centrais ou imediatos nas agendas políticas dos partidos do arco do poder.

Para a envelhecida população portuguesa —cerca de metade dos quase 2,4 milhões de votos que os socialistas obtiveram em 2021 são de eleitores com mais de 54 anos— a ausência de uma discussão abrangente sobre imigração reflete principalmente uma cautela política, não uma opção estratégica.

Apesar do grande aumento dos casos relatados de xenofobia, mas que devem ser analisados em perspectiva com o recorde histórico de brasileiros morando, estudando, trabalhando e investindo em Portugal, o governo de Lisboa até tem sido elogiado por suas políticas de acolhimento e integração. A criação do sistema de mobilidade da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é prova disso.

A atual situação política, marcada pela crise e a subsequente reorganização do espectro político, mostra que os líderes partidários estão concentrando suas estratégias em questões que consideram mais imediatas ou menos divisivas para o seu eleitorado, talvez buscando estabilizar o cenário político antes de abordar temas de natureza polarizadora como a imigração.

A abordagem cautelosa que Luís Montenegro (PSD) e Pedro Nuno Santos (PS) —um dos dois será o próximo premiê luso— têm em relação à imigração nesta campanha eleitoral, deve ser vista como uma questão tática, não como uma declaração política. O número recorde de brasileiros morando em Portugal não precisa sentir qualquer perigo com este silêncio dos candidatos à cadeira do poder.

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