José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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José Manuel Diogo

Por que o Brasil não domina o Sul Global

Em crises internas e sem reformar política externa, país seguirá como ator secundário diante de Estados Unidos, Rússia e China

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No cenário internacional atual, marcado por guerras, disputas geopolíticas e reconfigurações de alianças no hemisfério norte, a postura do Brasil, a grande potência do sul, destaca-se, mas não pelos motivos que todos gostaríamos.

Enquanto nações como a Rússia ampliam suas redes de influência por meio de acordos militares estratégicos com países como São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, o Brasil parece observar passivamente o tabuleiro global se rearranjar com a passividade estridente de um torcedor são-paulino. Esta inação brasileira, no entanto, é sintomática de males maiores e reflete profundas questões internas.

O presidente Lula posa para foto com os líderes do Brics: Xi Jinping, da China, Cyril Ramaphosa, da África do Sul, Narendra Modi, da Índia, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, representando Vladimir Putin - Gianluigi Guercia - 20.nov.23/AFP

Historicamente, o Brasil foi reconhecido como um "gigante pela própria natureza", dotado de um potencial de liderança incontestável na América Latina e um ator de relevância em fóruns multilaterais. Essa imagem, entretanto, tem sido progressivamente substituída pela de um país hesitante e politicamente fraturado. A crise política interna do Brasil —uma mescla de polarização extrema, crises econômicas recorrentes e uma falta de continuidade nas políticas públicas — tem corroído sua capacidade de exercer influência no exterior.

A ausência de uma política externa coerente e assertiva, refém de embates domésticos que oscilam conforme marés políticas e acordos de conveniência quase diários, deixa o Brasil à margem das grandes decisões internacionais. Essa fragilidade interna traduz-se em uma incapacidade de articular e sustentar posições estratégicas em arenas internacionais, limitando-se muitas vezes a reações episódicas em vez de ações proativas e planejadas.

Essa recente movimentação russa nos países lusófonos africanos é um exemplo palpável do vácuo deixado pela diplomacia brasileira. Enquanto a Rússia avança, solidificando sua influência em um território historicamente ligado à língua portuguesa, o Brasil parece incapaz de se contrapor ou mesmo de oferecer uma alternativa a esses países que compartilham laços históricos e culturais conosco. Nossa ausência nesse contexto não é apenas uma oportunidade perdida, mas um sintoma de uma maior enfermidade.

Esse cenário é um alerta. A política interna não só define o jogo doméstico, mas também delimita o raio de ação no exterior. A instabilidade política interna, marcada por contendas partidárias que frequentemente paralisam decisões estratégicas, projeta uma imagem de um Brasil introspectivo e desengajado e sobretudo pequeno.

Para reverter essa situação, seria essencial uma reformulação da política externa, com foco na estabilidade e na continuidade, e independente dos humores e desamores entre os líderes dos palácios dos três Poderes.

Uma diplomacia que apenas reage não antecipa cenários, não constrói pontes duradouras e faz o Brasil perder influência global, principalmente com as nações que compartilham o nosso idioma, que conhecem a nossa cultura e que admiram a nossa dimensão.

Para conseguir uma posição de relevância e respeito a nível global, o Brasil precisa resolver suas crises internas e formular uma visão de longo prazo para sua política externa. Enquanto isso não acontece continuará a ser um ator secundário em um mundo cada vez mais definido a norte, por Estados Unidos, Rússia e China.

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