Engenheiro e jornalista, é secretário-assistente de Redação da Folha, onde trabalha desde 1992
Inflamável
SÃO PAULO - A tocha olímpica chega na próxima semana a Brasília e será recebida pela presidente Dilma Rousseff. Em 5 de agosto, após passear por mais de 300 cidades e 12 mil mãos, entrará no Maracanã para a abertura da Rio-16. Dilma, tudo indica, não estará no estádio. A situação esdrúxula é apenas a última de uma incômoda lista de problemas que afligem o evento carioca.
O revezamento da tocha não é mero evento de patrocinadores. É um forte instrumento da propaganda olímpica, resgatado pelos nazistas para os Jogos de Berlim, em 1936. Todos os dias se verá a tocha em algum lugar, todos os dias lembraremos que a Olimpíada é inexorável. Prepare-se para os efeitos colaterais.
O mais comum deles é a janela de oportunidade que os Jogos abrem para quem demanda algo. Sydney-2000 e Londres-2012, por exemplo, sofreram com greves em seus sistemas de transporte até a véspera das competições.
Se é relativamente fácil lidar com grevistas em busca de melhores salários, a coisa complica quando o ato tem contornos políticos. Alguém consegue imaginar ambiente mais propício a manifestações de toda ordem que o atual? Se 20 sem-teto param a marginal em SP e ganham luz com helicópteros de rádios e TVs, o que partidários contra e a favor do impeachment, de Lula, da Lava Jato, do que for não conseguiriam em Copacabana com gigantes internacionais transmitindo ao vivo para o planeta?
Lobos solitários preocupam a Abin? Melhor começar a prestar atenção também aos vira-latas. A história olímpica prova que o despreparo é o pior governo. A maioria se lembra do horror terrorista e da inépcia policial em Munique, em 1972. Poucos, creio, do massacre de Tlateloco, dez dias antes dos Jogos da Cidade do México, em 1968. Uma revolta estudantil, sufocada pelo Exército, acabou em dezenas ou centenas de mortos, a depender de quem conta a história.
Ainda bem que vivemos outros tempos. Ou não?
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