Josimar Melo

Jornalista, crítico gastronômico, curador de conteúdo e apresentador do canal de TV Sabor & Arte

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Josimar Melo

O melhor club sandwich está em Paris

A iguaria novaiorquina, típica de hotéis, é minha preferida do serviço de quarto

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Chegar a outra cidade e pedir comida no quarto de hotel parece um disparate. Com a infinita oferta de pratos típicos porta afora, como comer trancado, prisioneiro do sempre mirrado e tedioso menu do room service?

É o que sempre penso —a não ser quando, chegando ao hotel, esteja tão faminto quanto cansado, e em horários que não facilitam a busca de um restaurante interessante ainda aberto.

Club sandwich - Flickr

Nesses casos, o jeito é apelar para algum quebra-galho pedido via interfone, o que me incomoda antes mesmo de aferir a qualidade da comida, por dois motivos.

Para começar, num quarto comum e pequeno, não me agradam os aromas que a comida deixa no ar —que podem ser sedutores quando ela chega, mas se tornam enjoativos quando, saciado, você só quer dormir.

Em segundo lugar, tenho horror ao espetáculo de bandejas com restos de refeição pousadas no chão pelos corredores. Mesmo nas melhores casas já recebi instruções do tipo "quando acabar, basta deixar a bandeja do lado de fora".

Deve ser frescura, mas acho o espetáculo pavoroso.

(Sempre ligo para a recepção pedindo que venham retirar a bandeja —diretamente comigo, não no chão).

Em sendo inevitável comer no quarto, pelo menos não tenho dúvidas quanto ao que escolher. Diante das opções de sempre —filé com fritas, macarrão à bolonhesa, pizza de muçarela— eu peço sempre um clássico da comida de hotel: o club sandwich.

Gosto de sanduíches, inclusive em casa, mas nunca fiz um club sandwich, que, fantasio, ficaria insípido fora do ambiente que lhe parece atávico: a bandeja com uma reluzente cloche entregue na sua porta.

Não hesito em pedir, mesmo que a maioria deles seja francamente ruim. Acho que, a cada decepção, aumenta a determinação de encontrar um exemplar apetitoso e recompensador.

Não sei a história da iguaria. Pesquisando superficialmente vemos versões de que nasceu num ou noutro clube (claro) de Nova York no final do século 19.

Mas haverá também quem diga que, da mesma forma que os americanos comem BLT ("bacon, letuce, tomato", sanduíche de bacon, alface e tomate), "club" seria a abreviação de seus ingredientes ("chicken and letuce under bacon", frango e alface sob bacon).

Não acho, mas vai saber...

O fato é que, por caminhos que desconheço, virou um clássico de hotel, com a mesma composição básica: pão de forma com frango (ou peru), bacon, alface, tomate, ovo e maionese. Cortado em triângulos e espetado por palitos.

Já o pedi no Lotte de Nova York, num apart-hotel em Bancoc, no Fasano de Belo Horizonte, no Grand Hyatt de São Paulo. Mas nenhum deles bateu o do Plaza Athenée de Paris, pelo menos na época em que a gastronomia do hotel era do chef Alain Ducasse.

Acredito que não tenha mudado, mas pela bagatela de 40 euros costumava vir impecável: pão de forma branco, tipo miga, sem casca, macio mas tostado; frango assado (não na chapa); tomates confitados, bacon crocante, alface, ovo caipira cozido, maionese. Ao lado, uma saladinha com incontáveis tipos de folhas, batatas chips crocantes e mais um potinho de maionese.

E sem o típico inconveniente: o club sandwich tem dois andares, ou três fatias de pão (uma delas no meio), o que lhe dá dimensões dignas de um Mercadão paulistano, antiergonômico, quase impossível de morder —o que obriga a usar talheres, um contrassenso em se tratando de um sanduíche.

Pois no Plaza Athenée (e em alguns outros lugares), ele vem alto, mas, na verdade, são duas camadas sobrepostas, cada uma com duas fatias de pão. É só agarrar com as mãos a metade de cima, ignorar a prataria que vem junto, e abocanhar com facilidade e sem pudor.

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