Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

O que acontece no Corinthians revela como o sucesso não se sustenta no Brasil

A gestão de nossos clubes é feita da mão para a boca, fruto de circunstâncias que passam

Homens com shorts preto e camisa branca se abraçam em gramado
Jogadores do Corinthians se reúnem antes de partida contra o Grêmio, em Itaquera - Paulo Whitaker/Reuters

​Campeão brasileiro com um time médio no ano passado, o Corinthians sofreu mais uma destruição, embora seu presidente, Andrés "Desmanches" Sanchez, negue o inegável.

Perder para o Grêmio mesmo em Itaquera não desmerece ninguém, ainda mais só por 1 a 0.

O que incomoda é a diferença entre os dois times, não apenas a coletiva, mas as individuais.

Dos times do G4, o Corinthians perdeu para todos. Perdeu também para o Galo e dos candidatos ao título só venceu o Palmeiras, talvez porque cercado de tal atmosfera de rivalidade que superou suas claras deficiências.

Daí não ser nada promissor o futuro alvinegro tanto na Copa do Brasil quanto na Libertadores, já que no Brasileiro o máximo que poderá será brigar por vaga na primeira fase da Libertadores.

Na Copa do Brasil, o próximo adversário é o Flamengo, com elenco incomparavelmente melhor. Em dois jogos, só por dessas coisas do futebol o Alvinegro chegará à final. E, se chegar, não será páreo nem para Cruzeiro nem para Palmeiras, com quem também deverá se encontrar, caso passe pelo Colo-Colo na Libertadores, nas quartas de final do torneio continental.

Nem a Fiel nem o colunista merecem tamanho sofrimento, porque só uma sucessão de milagres evitará uma sucessão de derrotas doídas.

Como, num passe de mágica às avessas, o príncipe vira sapo?

Cadê o clube que, segundo o sr. Desmanches prometia em 2012, seria um dos três maiores do mundo, com seu estádio pago, diga-se de passagem, ao fim de seis anos?

"Despareceu", como dizia minha segunda neta, então.

E desapareceu porque a gestão de nossos clubes é feita da mão para a boca, fruto de circunstâncias, de oportunidades que ora aparecem para um, ora para outro.

Homem de camisa azul disputa bola no ar com homem de camisa branca
Jael, do Grêmio, e Henrique, do Corinthians, disputam bola em Itaquera - Paulo Whitaker/Reuters

Assim aconteceu com o Palmeiras/Parmalat nos anos 1990, com o banco Excel, com a famigerada MSI e com o governo do PT em fins do século passado e neste, no Corinthians, com a Unimed, no Fluminense. Assim acontece, outra vez, agora com dona Leila do Palmeiras e por aí afora.

Como cometas, o dinheiro aparece e, quando escasseia, revela que não deixou nada estruturado.

Já se repetiu aqui um milhão de vezes que os alemães ensinaram o caminho da auto-sustentabilidade com suas Sociedades Anônimas do Futebol (SAF), tão bem proposta pelo advogado Rodrigo R. Monteiro de Castro, em dezenas de artigos e livros.

Fora disso o futebol nacional seguirá aos soluços, exportador de pé de obra para os mercados consolidados e emergentes pelo mundo afora.

Times surgirão para serem campeões num ano e virarem sacos de pancadas no outro e não haverá transparência, ou "compliance", que resistam.

Como diz o próprio advogado, qualquer esforço em tal direção no Brasil, sem uma reforma estrutural para valer, será como querer despoluir o rio Tietê, ou o Pinheiros, ou o Guaíba, ou, ainda, as lagoas Rodrigo de Freitas e da Pampulha, jogando litros e litros de água mineral nelas.

O Corinthians, nesta temporada, é apenas a bola da vez e nada impede que na próxima se recupere, como o São Paulo está se recuperando agora, mas sempre por acaso, embora esteja em curso um processo aparentemente mais sólido tanto no São Paulo quanto no Flamengo, ainda a ser comprovado.

Alguém dirá, não sem razão, que o país tem problemas muito mais sérios para resolver.

Com a diferença de que a questão do futebol tem solução muito mais fácil, óbvia e factível.

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