Mais um ano se vai e outra vez o futebol brasileiro tem pouco a festejar, pelo menos no que diz respeito ao enfrentamento com nossos adversários além fronteiras.
No ano passado tivemos o Grêmio campeão da Libertadores.
Neste restou o Atlético Paranaense em busca da Copa Sul-Americana, torneio secundário, quase consolo, embora, no caso, valioso para um clube ainda em busca de protagonismo.
O Furacão até campeão brasileiro já foi em 2001, mas não se firmou.
Disputou, também é verdade, a decisão da Libertadores de 2005, mas, por força do regulamento sem noção da Conmebol, teve de jogar a primeira partida fora de casa, no Beira-Rio, porque sua Arena da Baixada não comportava 40 mil torcedores, embora fosse palco seguro e tivesse instalado arquibancadas provisórias para abrigar o público exigido.
Empatou 1 a 1 em Porto Alegre com o estádio semivazio e levou de 4 a 0 no Morumbi com 72 mil torcedores.
Caso venha a ser campeão contra o Junior Barranquilla, e tem bola para tanto, na quarta-feira (12), o Furacão salvará um pouco, só um pouco, temporada esquecível para o outrora poderoso futebol brasileiro.
Porque mais uma vez, como aconteceu em 2013/14/15 e 16, um clube do Patropi nem sequer disputou a decisão do maior torneio continental.
E a Copa do Mundo, na Rússia, teve o sabor amargo da frustração.
Cercada de compreensível otimismo depois da impecável campanha, sob o comando de Tite, nas eliminatórias e nos amistosos, a seleção parou na Bélgica.
Ainda nas quartas de final, na Arena Kazan, derrotada por 2 a 1, apesar de ter jogado bem, de ter criado duas chances claras para abrir o placar no começo do jogo, antes de sofrer o 2 a 0 inaugurado com a infelicidade do gol contra de Fernandinho, de ter reagido no segundo tempo, diminuído para 2 a 1, sofrido pênalti em Gabriel Jesus não assinalado e de ter visto Renato Augusto, que havia feito o gol, perder outro, em passe de Philippe Coutinho.
Num dos melhores jogos da Copa, o Brasil finalizou 27 vezes contra nove chutes belgas, acertou o gol nove vezes contra três dos rivais, teve a bola por 59% do tempo, oito escanteios a seu favor contra quatro, trocou 520 passes, com 88% de acertos, contra 376 e 80%, e perdeu.
Perdeu como perdeu, depois da Copa, algumas de suas melhores promessas, como o meio-campista Arthur, e os atacantes Vinicius Júnior, Lucas Paquetá e Rodrygo.
O primeiro, o ex-gremista, de apenas 22 anos, para o Barcelona.
O segundo, para o Real Madrid, e o terceiro, para o Milan, ambos ex-Flamengo, de 18 e 21 anos respectivamente, e o quarto, quase ex-Santos, de 17, de malas prontas para trocar a Vila Belmiro pelo Santiago Bernabéu em julho do ano que vem.
Assim têm sido, há anos, as piores perdas do nosso futebol exportador de pé de obra, o que vende o artista em vez do espetáculo, e por isso, por ver seus talentos só pela TV, tem ocupação de apenas 44% da capacidade de seus estádios.
Perder ou ganhar da Bélgica é o menos grave, pois o resultado soou injusto até para o treinador belga que, ao cumprimentar Tite, reconheceu a superioridade brasileira.
Duro é saber ser inútil revelar jovens ano após ano e perdê-los como se fossem commodities, como se fossem petróleo, café, soja, suco de laranja, riquezas passíveis de reposição.
O talento, não.
Mesmo porque, quando surgem outros, não completam um ano por aqui.
Juca Kfouri
Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.
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Brasil tem mais uma temporada esquecível no exterior
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