Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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A seleção cricri

A CBF quer tornar seu time simpático na Copa América disputada no Brasil

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Se você ainda não está ligada ou ligado, rara leitora, raro leitor, a Copa América de 2019 será disputada no Brasil entre 14 de junho e 7 de julho.

A seleção brasileira jogará, no mínimo, em São Paulo, duas vezes, na estreia, no Morumbi (14/6), e no terceiro jogo, em Itaquera (22/6), além de jogar em Salvador (18/6).

E pode seguir nos mata-matas por Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio.

Nesta quinta-feira (24) serão conhecidos os adversários da fase de grupos na carioca Cidade das Artes.

Se tudo der certo, a seleção brasileira passará pelas cinco capitais do eixo mais poderoso do futebol nacional, o que abriga as 13 maiores torcidas do país.

A CBF deseja permitir maior contato do time com a massa e não o esconderá em Teresópolis ao evitar o desgastante bate-volta da Copa do Mundo de 2014, repetido na Rússia com as idas e vindas a Sochi.

Parece a melhor medida do ponto de vista técnico e busca tornar os jogadores mais acessíveis a seus fãs diante da constatação de que não é simpática a imagem da seleção.

Neymar cumprimenta torcedores durante a Copa do Mundo da Rússia
Neymar cumprimenta torcedores durante a Copa do Mundo da Rússia - Eduardo Knapp/Folhapress

Cricri era como o imortal chargista mineiro Henfil (1944-88) tratava o Botafogo, pedra no sapato do Flamengo, para quem torcia fervorosamente. Então, ainda era cri-cri, assim, com hífen, sinônimo de chato.

De fato, faz tempo, a seleção mais chateia que alegra, com rápida interrupção durante a Copa das Confederações de 2013, quando derrotou a Espanha campeã mundial na final no Maracanã. 

Então, a torcida cantou "o campeão voltou".

É isso. O torcedor brasileiro gosta mesmo é de ganhar, embora, paradoxalmente, até hoje ame o time derrotado na Copa de 1982.

O vôlei virou fenômeno por aqui porque ganha sem parar entre mulheres e homens e o basquete ficou esquecido porque só perde, apesar de ter sido o segundo esporte quando vencia, bicampeão mundial em 1959/63.

O automobilismo virou febre graças a Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Mas passou.

Já Guga fez o Brasil parar para ver jogos de tênis.

Com o time de futebol a relação sempre foi de amor e ódio.

Tanto que se diz ser preciso sair do Brasil vaiado para ganhar Copas do Mundo, como aconteceu em quatro das cinco Copas vencidas. A exceção ficou com a de 1962, no Chile, a do bicampeonato.

Só que a questão hoje em dia é de outro tipo.

Nelson Rodrigues, antes do tricampeonato conquistado em 1970 pela seleção tida como a melhor de todos os tempos, escreveu sobre o embarque: "Partiu o escrete. Terminou o seu exílio."

A imagem da CBF, mesmo entre quem veste a camisa em manifestações políticas, é a legada por João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, os quatro cavaleiros do apocalipse.

Não serão o anedótico coronel Nunes e o golpista Caboclo, assessorados pelo secretário-menor, capazes de mudar tal estado de coisas, nem mesmo com a conquista da Copa América, no máximo uma alegria fugaz.

Basta constatar o que rapidamente aconteceu com a imagem vencedora de Tite.

Em busca de simpatia, a CBF já usou as figuras de Ronaldo Fenômeno, Bebeto, Cafu, além de outros menos votados. Em vão, ou, até, com efeito contrário para os próprios. 

Agora especula-se em torno de Kaká, mais um equilibrista, crítico mas nem tanto, em vias de ser cooptado em nome da missão impossível.

Não serão os que aí estão os responsáveis por fazer da Casa Bandida do Futebol algo acolhedor e confiável.

Nem os neopentecostais.

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