Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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O futebol não sabe o que fazer, mas voltar antes da hora será pior

A maioria de nossos clubes estava em situação difícil e ficará a pão e água.

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O futebol está numa sinuca de bico. O que fazer?

Em primeiro lugar, esperar, ter paciência.

Por mais angustiante que a situação seja, e é, ter pressa, querer voltar antes da hora, será a pior escolha.

Simbolicamente, lembremos: o Pacaembu virou hospital de campanha e os ingleses pensam em fazer de Wembley um depósito de cadáveres porque as funerárias de Londres não estão dando conta do congestionamento de caixões.

O estádio do Pacamebu como hospital de campanha contra o coronavírus
O estádio do Pacamebu como hospital de campanha contra o coronavírus - Eduardo Anizelli-27.mar.20/Folhapress

Parece macabro e também é.

Uma primeira atitude do governo inglês minimizando a gravidade da pandemia cobra o preço em vidas que poderiam ter sido poupadas, de idosos e de jovens. Como aqui.

Projeções da Premier League admitem a possibilidade de uma quebradeira de cerca de 30% dos clubes menores, em regra mais bem geridos que os brasileiros.

Nos Estados Unidos o projeto é o de acabar com o estímulo financeiro às bases tanto do futebol feminino quanto do masculino.

A Bélgica simplesmente deu os trâmites por findos e encerrou seu campeonato nacional.

Na melhor das hipóteses, países que fizeram bem a lição de casa, como a Alemanha, voltarão sabe-se lá quando, mas com portões fechados.

Não se tem a menor ideia de como será o comportamento do torcedor mesmo quando tudo passar. Por quanto tempo teremos medo de aglomerações?

No México, quando houve a epidemia do H1N1, em 2009, a queda nos jogos de beisebol chegou aos 30% e no futebol a 20%.

Desnecessário dizer o quanto tamanha redução afeta as finanças dos clubes.

Peguemos o caso do Palmeiras, um dos poucos, senão o único ao lado do Flamengo, clubes aparentemente saudáveis no país.

Não estar em atividade, apesar de seguir recebendo da patrocinadora, afeta em cerca de 28% a renda proveniente do estádio, além da suspensão do dinheiro da TV.

Imaginar a volta das atividades com portões fechados, portanto, alivia só a segunda parte, embora tal hipótese enseje outra questão: mesmo que as autoridades sanitárias, e não considere o Capitão Corona como tal, autorizem o retorno dos jogos, como será?

Pense na seguinte hipótese e bata na madeira três vezes: antes do jogo entre Palmeiras e Santo André, pelas quartas de final do Paulistinha, Felipe Melo (escolhido para o infortúnio apenas por ser fã do Capitão Corona) testa positivo.

OK, ele estará fora do jogo, como poderia estar por suspensão, mais provável, ou lesão. Mas, e seus companheiros de time? Não deverão entrar em quarentena? E aí? O Palmeiras perderá por WO? Ou vai parar tudo de novo até que o alviverde esteja 100%?

Será ingênuo achar que o fim do isolamento social signifique vida normal, estádios lotados, um gole na sua cerveja, vamos dividir o churrasquinho de gato.

A maioria de nossos clubes já estava encalacrada e ficará a pão e água.

Como o Brasil do Posto Ipiranga, que justificará sua incompetência ao botar a culpa no coronavírus, apesar de o país estar afundado antes da pandemia, a cartolagem tentará usar a mesma muleta.

Lembremos que o futebol não é apenas gerador de empregos e riqueza na indústria do entretenimento, porque importante meio de ocupação para bilhões de torcedores pelo mundo afora, companhia importante para quem está dentro de casa.

O beco sem saída é assustador e buscar otimismo agora será exclusivo dos mal-informados.

Ou pior: dos necrófilos do Planalto e da mídia dependente.

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