Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Para cutucar Globo, governo edita desnecessária MP do Flamengo

O maior acerto estaria em dinamitar de vez qualquer monopólio em tempos de streaming

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A motivação da MP que dá aos mandantes a liberdade de vender os direitos de TV é da pior qualidade: ferir a Globo por mostrar os números corretos da pandemia e as mazelas da família e do governo Bolsonaro.

Nada justifica legislar sobre o tema por MP, que exige urgência. Além do mais, só mesmo o camaleão presidente do Flamengo Rodolfo Landim, de dilmista a bolsonarista do dia para noite, foi ouvido.

Dito isso, é possível escrever certo por linhas tortas e o maior acerto estaria em dinamitar de vez qualquer monopólio em tempos de novas plataformas, streaming etc.

Aí, aliás, uma ironia: quando Marcelo Campos Pinto, então na Globo Esporte, juntou-se a Ricardo Teixeira (CBF) e Andrés Sanchez (Corinthians), para implodir o Clube dos 13 diante de modernizadora proposta de negociação coletiva de Ataíde Gil Guerreiro (São Paulo), não imaginou o tamanho do tiro que dava no próprio pé, assim como quando ficou contra o Brasileiro por pontos corridos ou se meteu em nebulosas transações com a Fifa.

O estímulo às negociações individuais chega agora ao clímax ao se adotar o modelo mexicano em vez do britânico, alemão ou espanhol.

Há quem veja no novo modelo vantagens também para os clubes menos poderosos, embora sejam óbvias as dos de maiores torcidas, o que fatalmente aumentará a distância entre uns e outros.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido, ao centro) com os presidentes do Flamengo, Rodolfo Landim (ao seu lado esquerdo), e do Vasco, Alexandre Campello (ao seu lado direito), em Brasília. Também estão na foto o filho e senador, Flavio Bolsonaro, e o funcionário do Flamengo, Aleksander Santos
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido, ao centro) com os presidentes do Flamengo, Rodolfo Landim (ao seu lado esquerdo), e do Vasco, Alexandre Campello (ao seu lado direito), em Brasília. Também estão na foto o filho e senador, Flavio Bolsonaro (mais à esquerda), e o funcionário do Flamengo, Aleksander Santos - Flavio Bolsonaro no Instagram

Pensar coletivamente é coisa historicamente difícil no Brasil e no futebol não poderia ser diferente.

Exemplos como da NBA, ou da Premier League, parecem utópicos no Patropi.

Nas ligas esportivas realmente profissionais, o objetivo é o tamanho do negócio que, para ser efetivamente bem-sucedido, tem de ser bom para todos. O mando de jogos é das ligas.

Os clubes associativos nacionais, todos sob modelo gestão ultrapassado no mundo globalizado, olham apenas para os próprios umbigos e perdem a chance de agir em conjunto.

Se é frequente vermos clubes vender seus mandos para empresários aventureiros, como será agora com a possibilidade de intermediação das transmissões, pergunta Gil Guerreiro, embora veja um passo à frente na MP nas circunstâncias atuais, em que as negociações já são mesmo individuais.

Outro estudioso do tema, José Luiz Portella, responsável pelo iluminista Estatuto do Torcedor, pondera que se os clubes menos populares se unirem, poderão reunir as condições jamais obtidas para negociar.

Argumento interessante, embora união pareça ter ficado apenas no nome do torneio disputado, com enorme sucesso, em 1987, a Copa União, produzida exatamente pelo Clube dos 13, cinco anos antes da criação da Premier League, com a continuidade desperdiçada pela covardia da cartolagem de então.

Mesmo um governo destrambelhado como o que temos é capaz de, às vezes, acertar, ou ter o crédito da dúvida.

Daí ser necessário dar tempo ao tempo para observar como a medida evoluirá para se transformar, ou não, em lei nos próximos 120 dias.

O ideal, sem a menor chance de acontecer, seria ver a discussão evoluir para a necessidade da criação da liga dos clubes, um por todos, todos por um.

O lema, consagrado pelos Três Mosqueteiros do escritor francês Alexandre Dumas (1802-1870), mais parece coisa do espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616) e seu Dom Quixote.

Os moinhos de vento são os nossos empedernidos clubes de futebol, que de gigantes nada têm.

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