Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro 2020

Corinthians e Palmeiras farão mais um dérbi estranho em 2020?

Colunistas do futuro irão ver que os do século 21 estavam pessimistas sobre o jogo

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No dia 19 de fevereiro de 2021 esta Folha completará seu primeiro centenário.

Como estará o mundo quando completar o segundo?

Pergunto porque tenho curiosidade sobre a quantas andará o dérbi.

Nesta quinta-feira (10), em Itaquera, o maior clássico paulista será disputado pela 366ª vez.

Daqui a 100 anos dá para imaginar o dérbi 720 se contarmos que foi em 2017 que o clássico também virou centenário.

Então, o Almanaque do Timão, que o bisneto de Celso Unzelte seguirá alimentando para um chip no dedo mindinho dos corintianos, registrará as estranhezas de 2020.

Como fizemos agora ao pesquisar o andamento do dérbi na gripe espanhola, os colunistas desta Folha procurarão saber a mesma coisa em relação à pandemia da Covid-19.

Em 1918 houve três dérbis, com dois empates 3 a 3 e uma vitória alviverde por 4 a 2, o último em maio.

Veio a gripe e os dois só voltaram a se enfrentar um ano depois, vitória alvinegra por 3 a 2 sobre o Palestra Itália.

Os sucessores de Tostão, que se orgulharão de sucedê-lo, embora nunca à altura, descobrirão que houve pelo menos quatro dérbis sem torcida nos estádios em 2020, dois deles decisivos para o extinto Campeonato Paulista — que os ufanistas chamavam de Paulistão e os críticos, além do presidente do Palmeiras, campeão na temporada, tratavam como Paulistinha.

Saberão que o dérbi pelo Covidão-20 abriu a possibilidade do Palmeiras, mais forte, empatar o confronto com 128 vitórias para cada lado na história, e de fazer 18 a 17 em jogos válidos pelo campeonato nacional.

Ao chegar nesta coluna num estalar de dedos, os colunista do século 22 verão que Vanderlei Luxemburgo seguia dando tratos à bola para fazer seu time jogar bem e que Tiago Nunes nem tinha mais tal intenção, mas apenas a de ganhar, ou, ao menos, empatar.

Se empatasse seria o 20° pela Série A e 111º na história.

Verão, também, que os colunistas do século 21 estavam pessimistas em relação à qualidade do clássico, baseados no que houve nos dois anteriores —0 a 0 em Itaquera e 1 a 1 na casa verde, em dois jogos horrorosos.

Sem a Fiel nas arquibancadas —ah, sim, os colunistas do futuro terão dificuldade para entender por que em 2020 havia torcida única nos clássicos— previa-se um primeiro tempo amarrado entre os dois times para que o jogo fosse decidido no segundo, quando o Palmeiras trocaria meio time e, mais oxigenado, costumava melhorar contra os adversários de elencos menos fartos.

Mas cadê o Dudu?, perguntarão, de quem se falava maravilhas, maior estrela do time milionário?
Pesquisarão o grave problema pessoal que o levou para bem longe, para o Qatar, emprestado por um ano ao Al Duhail, onde o dinheiro é vendaval e o futebol, estiagem. Se surpreenderão ao constatar que no século 21 ainda havia quem precisasse se defender de acusações de bater em mulheres.

Constatarão que o maior goleiro da história corintiana, Cássio, atravessava mau momento, com falhas seguidas contra o Atlético Mineiro, Goiás, São Paulo e Botafogo, a ponto de ter torcedor, este ser ingrato, pedir a entrada do bom reserva Walter.

Nada que não pudesse ser revertido caso voltasse a atuar como sempre e oportunidade melhor não havia.

Enfim, se no Brasil é difícil prever até o passado, imagine o futuro.

Resta esperar, mais desejar que esperar, um dérbi de acordo com a tradição centenária da rivalidade.

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