Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro 2021

Pontos corridos até podem ser um pum, mas singelo

O problema do futebol brasileiro não está na fórmula de seu principal campeonato

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Chega ao fim nesta quinta-feira (9) o 19º Campeonato Brasileiro no sistema de pontos corridos.
Cabeças e vozes respeitáveis seguem contestando a fórmula, por sentirem falta da emoção que cerca a grande final.

O jurista pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho, mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras, autor da portentosa obra "Fernando Pessoa: Uma quase autobiografia", está entre os críticos e compara a derradeira rodada, com a irreverência que o caracteriza, a "um pum".

E pergunta: "Nos Estados Unidos, os 20 programas de maior audiência, na história, foram 20 Super Bowls. Aqui, qual o público de TV do último jogo do Atlético?".

Outro imortal também brilhante, Luis Fernando Verissimo, não se conforma com o rebaixamento de clubes com grandes torcidas, embora deva estar torcendo intimamente (ou não) pela queda do Grêmio, colorado que é.

Grêmio tem uma última tentativa para escapar da Série B - Carla Carniel - 5.dez.21/Reuters

Ambos influenciados pelos magos norte-americanos da indústria do esporte, com suas franquias, sem rebaixamentos e com playoffs.

São argumentos mais que compreensíveis e é complicado refutá-los.

Quem defende a necessidade do jogo final, o épico, o inesquecível, adepto do mata-mata, não se satisfaz com o mata-mata da Copa do Brasil, da Libertadores e do Mundial de Clubes.

Mesmo que em todos os países do Primeiro Mundo do futebol haja campeonatos nacionais em pontos corridos.

Será por isso que o futebol, o soccer dos estadunidenses, é o esporte mais popular do planeta, embora não o seja no país de Tio Sam?

Pergunte ao torcedor do Galo se não foi épico, inesquecível, o jogo que valeu o bicampeonato, na antepenúltima rodada e na distante Bahia para quem vive em Minas Gerais.

Ainda mais para o atleticano que viveu a final de 1977, no Mineirão, contra o São Paulo, empate de 0 a 0, vitória paulista nos pênaltis, com dez pontos a menos que o time mineiro invicto, porque em mata-mata.

"O esporte não foi inventado para fazer justiça, mas para emocionar", argumenta-se, outra ponderação respeitável.

Adeptos dos pontos corridos, replicamos: "Melhor é justiça com emoção e, essencial, com a garantia de atividade aos clubes por toda a temporada, aspecto relegado pelo mata-mata".

A 38ª rodada do Campeonato Brasileiro não definirá o campeão, mas é incerto cravar que a alegria do vencedor é maior como fruto do jogo definitivo ou se distribuída homeopaticamente, a cada passo, como as preliminares que antecedem o orgasmo.

Torcida do Atlético festejou muito o título nacional - Alexandre Rezende - 2.dez.21/Folhapress

Ao final desta noite, duas torcidas chorarão quedas para Série B, talvez até um Imortal, não da ABL, mas da FGF.

Outras festejarão vagas na Libertadores ou, ao menos, a permanência na Série A, que não é pouco.
Apenas o jogo entre Sport e Athletico não valerá nada para os dois times.

O problema do futebol brasileiro não está na fórmula de seu principal campeonato, mas na divisão injusta de recursos entre os participantes, causadora do constante rebaixamento de clubes menores, algo que só a Liga poderia resolver, aí sim, se houvesse por aqui a compreensão prevalecente nas ligas americanas, a de que estão todos no mesmo barco.

Entre os queridos imortais e o Imortal, oxalá todos sigam em frente.

Porque os pontos corridos até podem ser um pum, mas singelo: perfumado pela necessidade de atividade por toda a temporada e, sobretudo, pelo aroma de o campeão ser sempre o melhor.

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