Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Os desafios de Neymar na Copa do Mundo 2022

O camisa 10 da seleção brasileira acrescentou novo repto ao desempenho no Qatar

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Neymar irá à Copa do Mundo com carga pesada nas costas.

Espera-se dele atuação como a de Didi, em 1958, na Suécia; de Mané Garrincha, em 1962, no Chile; do Rei Pelé, em 1970, no México; de Romário, em 1994, nos Estados Unidos, e de Ronaldo Fenômeno, em 2002, na Coreia do Sul e Japão.

Neymar durante partida do PSG contra o Lorient - François Monier/AFP

Numa palavra: protagonismo.

Papel que poderia ter desempenhado em 2010, na África do Sul, não fosse a cegueira de Dunga; em 2014 se não tivesse acontecido a entrada criminosa do colombiano Camilo Zuñiga que o alijou da Copa no Brasil; e em 2018, na Rússia, se ele tivesse escolhido jogar futebol em vez de se atirar ao gramado para ser ridicularizado pelo mundo afora.

É provável, segundo ele mesmo, que no Qatar tenha a última chance de se imortalizar na história do futebol brasileiro, como herói do hexacampeonato.

Aos 30 anos, Neymar acha difícil atravessar mais quatro anos na busca do equilíbrio entre a vida de atleta e a de pop star. Deve mesmo ser dureza.

Suas atuações no PSG parecem autorizar a melhor das expectativas, apesar de o Campeonato Francês não ser exatamente pista de provas confiável.

Neymar despertou antipatia em mais da metade do eleitorado brasileiro ao apoiar o candidato derrotado.
Tem tanta gente torcendo contra ele, até maldosamente desejando que se machuque e fique de fora como em 2014, que só mesmo se fizer um montão de gols o perdoarão.

Porque arrumou briga exatamente com a parcela politizada do país.

Tivesse declarado apoio a Lula e o outro fosse o vencedor, a despolitização dos adeptos do sociopata é tamanha, basta ouvir o que dizem os baderneiros das recentes manifestações de chororô, e não haveria maiores problemas. Mas não.

Até para sua vida de garoto propaganda a declaração egoísta de voto —sem levar em conta quase 700 mil mortos, boa parte pela necropolítica implantada no Brasil—, apenas porque teve a solidariedade presidencial ao ser acusado em nebuloso caso de estupro, cobrará preço alto. A menos que brilhe, porque, sabemos, gols fazem milagres e vitórias no futebol tem o condão de superar quaisquer ressentimentos.

Para aumentar o desafio, Lionel Messi, 35, também estará obcecado por ganhar o título que lhe falta pela Argentina, assim como Karin Benzema, 34, pela França e Kevin De Bruyne, 31, pela Bélgica.

Complicado, não é?

Exigimos dos atletas que se manifestem politicamente e os poucos que dão a cara à tapa acabam estapeados. Faz parte.

Doutor Sócrates e Walter Casagrande Júnior também deram e apanharam da direita, embora suas posições fossem, como ainda são, fundamentadas, sem envolvimento com crimes sexuais ou de sonegação fiscal.

Enfim, aqui se faz, aqui se paga e tudo que Tite não queria era a contaminação da seleção pela questão eleitoral, assim como não queriam a CBF e a fornecedora das camisas amarelas e azuis, umas em baixa, outras em alta.

Neymar que drible europeus, africanos, americanos ou improváveis asiáticos e faça por cair nas graças outra vez de boa parte de mais de 60 milhões de eleitores.

Será difícil, mas quem disse que ser campeão mundial é mole.

Só mesmo para Gérson, o Canhotinha de Ouro, que ao fim da Copa do Mundo de 1970, a do tricampeonato, no vestiário vitorioso após a goleada por 4 a 1 sobre a Itália, saiu-se com essa numa emissora de rádio: "Agora que acabou, pensando bem, foi fácil".

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