Vira e mexe alguém diz que não foi só a qualidade do futebol brasileiro que caiu, mas, também, a da imprensa esportiva.
Cadê Armando Nogueira, cadê João Saldanha, cadê Nelson Rodrigues? —principalmente os cariocas perguntam.
Humildemente, os que restamos, se tivermos um mínimo de senso crítico, haveremos de concordar: cadê mestre Armando, cadê João Sem Medo, cadê o Anjo Pornográfico?
Tem Eduardo Gonçalves de Andrade, é verdade, o Tostāo.
Armando e João, se por aqui ainda estivessem, se divertiriam a valer com a oferta de futebol quase diária proporcionada pelas mais variadas plataformas.
Nelson Rodrigues acabaria internado num hospício.
Não suportaria ver a sucessão de acontecimentos extraordinários no Campeonato Inglês e na Liga dos Campeões da Europa.
Provavelmente assumiria outra vez o complexo de vira-latas diagnosticado por sua louca lucidez depois do Maracanazo.
Porque o futebol que andamos praticando no Brasil não faz frente, nem costa, ao visto nos gramados do Velho Mundo.
Ele enlouqueceria se, no sábado e na terça-feira de Carnaval, visse o que vimos na Inglaterra —em Birmingham, Nottingham e Liverpool.
Especialmente em Liverpool, onde os eventos fantásticos das outras duas cidades acabaram por ser superados.
O criador do Sobrenatural de Almeida teria de inventar o Extraordinário da Silva, o Espantoso de Souza e, talvez, o Miraculoso Rodrigues, como se seu primo fosse.
Porque tem acontecido de tudo desde que a Argentina, do mágico Messi, e a França, do exuberante Mbappé, decidiram a Copa do Mundo, naquele lugar artificial chamado Qatar, em jogo fabuloso.
Talvez até por isso o Rei Pelé tenha resolvido ir descansar.
É um tal de Jorginho bater falta no travessão, nos acréscimos, em jogo empatado, a bola voltar na cabeça do goleiro e dar a vitória ao Arsenal; ou o maior artilheiro que surgiu nos últimos anos no Planeta Bola, o Cometa Haaland, perder aquele gol que nossa avó faria; ou dois dos melhores goleiros do mundo, o belga Courtois e o brasileiro Alisson, no mesmo jogo, cometerem a mesma lambança para proporcionar gols aos brilhantes Mohamed Salah e Vinícius Júnior que, francamente, a realidade paralela parece ser coisa pouca para explicar os mistérios da bola.
Ah, sim, mestre Armando diria que só faz aquele segundo gol do Real Madrid alguém capaz de fazer o primeiro, como Vini Jr. fez, pois se "o jogador vê, o craque antevê".
Saldanha concordaria: "Sabe por que o Real enfiou 5 a 2 nos ingleses? Porque Vinícius Júnior joga pro Real. Se jogasse pro Liverpool ganharia igual".
Mas estava 2 a 0 para os ingleses, em casa, o que praticamente eliminaria os espanhóis, e acabou com o placar que evidentemente eliminou os britânicos. Ou não!
É, ou não! Tantas coisas têm acontecido fora da ordem mundial que ninguém garante o resultado no jogo da volta, em Santiago Bernabéu.
Ao se desvencilhar da camisa de força, Nelson Rodrigues conclamaria: "Nas situações de rotina, os Reds podem ficar em casa abanando-se com o Liverpool Echo. Mas quando o time precisa de número, acontece o suave milagre: os vermelhos vivos, doentes e mortos aparecem. Os vivos saem de suas casas, os doentes de suas camas e os mortos de suas tumbas".
O jogo pela Champions causou tamanho impacto que está difícil pensar em qualquer outro.
Mas pensaremos.
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