Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

O basquete e o sonambulismo

Playoffs da NBA enlouquecem e não deixam dormir quem precisa de sono

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Entre 1993 e 2005, Melchiades Filho foi editor de Esporte desta Folha. Entre 1996 e 2005, uma vez por semana, assinava coluna que tratava apenas e tão somente de basquete.

Frequentemente as escrevia na primeira pessoa e eram deliciosas.

Tão deliciosas como têm sido as noites da NBA, agora em fase de playoffs.

Os problemas que causam também são dignos de nota.

Os jogos aos domingos causam menos problemas, porque, em regra, acontecem mais cedo.

Mas, nos chamados dias úteis —de resto uma bobagem, porque nada mais útil que os sábados e domingos, seja para o divertimento, seja para o trabalho de quem não conhece dias inúteis—, principalmente com os jogos da Conferência Oeste, fica difícil conciliar a adrenalina com a melatonina, porque começam quase sempre depois das 11 horas da noite.

Não bastasse o horário, é na Conferência Oeste que estão Stephen Curry e LeBron James, Anthony Davis e Nicola Jokic, Ja Morant e De’Aron Fox, Kevin Durant e Kawhi Leonard, uma constelação capaz de tirar qualquer pessoa do sério e passar a não acreditar no que está vendo ou, pior, acreditar que está vendo coisas que não podem estar acontecendo.

Kevin Durant (#35), do Phoenix Suns, em lance com Michael Porter Jr. (#1), do Denver Nuggets, em playoff da Conferência Oeste, em Denver - Matthew Stockman - 1°.mai.23/Getty Images via AFP

É claro que na Conferência Leste também há jogadores fenomenais, embora se caracterizem mais pelo pragmatismo que pelo malabarismo.

É nela que você encontra o MVP da temporada regular, o camaronês Joel Embid, do Philadelphia 76ers, e seu companheiro James Harden, que dia desses foi a Boston enfrentar o favorito Celtics e meteu-lhe 45 pontos na vitória por 119 a 115, já que Embid estava machucado e não pôde atuar. E o danado do barbudo não fazia um trejeito, uma expressão facial que não fosse apenas (?) a de seu olhar assassino.

James Harden, do Philadelphia 76ers, comemora cesta de três pontos na partida Celtics 115 x 119 Philadelphia 76ers, em Boston - Maddie Meyer - 1°.mai.23/Getty Images via AFP

Aí, rara leitora e raro leitor, a pergunta é singela: como dormir?

Como dormir depois de ver Stephen Curry, no jogo 7 das oitavas de final, na casa dos Kings em Sacramento, fazer 50 pontos e vencê-los por 120 a 100 em jogo no qual o Golden State Warriors não era mais o favorito, pois tinha levado um baile na partida anterior, em São Francisco?

Stephen Curry (#30), do Golden State Warriors, arremessa na partida contra o Los Angeles Lakers, em San Francisco - Cary Edmondson - 2.mai.23/USA Today via Reuters

Daí, classificados os Warriors e os Lakers para as semifinais, o cidadão se prepara para ver o embate entre Curry e LeBron. Até vê, porque vê o primeiro fazer 27 pontos com seis bolas de três e o segundo marcar 22 além de pegar 11 rebotes, mas vê mesmo Anthony Davis converter 30 pontos e arrancar 23 rebotes das mãos dos rivais californianos, em vitória espetacular, na casa do adversário, por 117 a 112. De quebra, nos segundos derradeiros, diante de reação sensacional dos anfitriões, Davis deu um toco estarrecedor em Curry para impedir que alcançasse a vantagem em momento crucial.

Anthony Davis (#3), do Los Angeles Lakers, em lance da partida contra o Golden State Warriors, em San Francisco - Ezra Shaw - 2.mai.23/Getty Images via AFP

Sim, repita-se a pergunta: como dormir, adrenalina a mil, melatonina a zero, quando o relógio marca duas da matina?

OK, OK, o cidadão se conforma, vai que consiga conciliar o sono ali pelas quatro e possa dormir outras quatro.

Então, antes das oito, o telefone toca e dá conta de que a Polícia Federal está na porta, não de sua casa, é claro, e não teria mesmo de ser, mas na do ex-presidente, porque o cara falsificou a carteira de vacina para entrar nos Estados Unidos, a terra da NBA!

E então você se pergunta como Melchiades Filho escreveria a coluna dele: misturaria ou não esporte com política?

Seja qual for a resposta, uma coisa é certa: é tudo inacreditável.

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