Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Copa do Brasil São Paulo

A incrível história dos tabus

O tal do futebol tem mistérios que ninguém explica de maneira satisfatória

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Mais uma vez o São Paulo jogou melhor que o Corinthians em Itaquera e mais uma vez, pela 18ª, saiu de lá sem a vitória que na noite de terça (25) até fez por merecer.

Pior: nem mesmo o empate lhe sorriu, mas a 11ª derrota. Como explicar?

Quem tem mais tempo de vida se lembrará dos 11 anos sem vitória do Corinthians sobre o Santos.

Tudo bem, do lado praiano tinha simplesmente o Rei Pelé, mas, mesmo assim, o Santos perdia até para o seu vizinho Jabaquara com Pelé e tudo. Para o Corinthians, não.

Assim aconteceu entre 1957 e 1968, até que Paulo Borges e Flávio estabeleceram a quebra do tabu por 2 a 0.

(Nota folclórica: a Fiel saiu do Pacaembu cantando "um, dois, três, o Santos é freguês".)

Folha de S.Paulo de 7 de março de 1968, que relata a vitória do Corinthians sobre o Santos em 6/3/1968; jogo quebrou um tabu de 11 anos no Campeonato Paulista
A Fiel sorriu em 6 de março de 1968 - Reprodução - 7.mar.68/Folha de S.Paulo

A festa equivaleu às de comemorações de títulos, apesar dos 14 anos de jejum corintiano —que duraria por mais nove, até 1977.

O incômodo que o são-paulino sente hoje em dia na casa alvinegra é menos acentuado, porque vira e mexe o tricolor vence no Morumbi, embora o trajeto de lá para Itaquera deva causar calafrios no elenco, por menos que se admita.

Segundo Walter Casagrande Júnior, sim, tabus incomodam, os jogadores comentam entre si a dificuldade de jogar em estádios ou cidades onde os resultados bons não acontecem, e mais uma vez o São Paulo saiu derrotado da zona leste paulistana, diante de 47 mil fiéis.

Renato Augusto, o diferente, fez parte fundamental da manutenção da escrita, porque marcou os dois gols da vitória por 2 a 1, e deixou o time a um empate de outra final na Copa Brasil —nada decidido, é verdade, mas com novo capítulo do tal tabu. Ou escrita, termo mais apropriado, porque tabu é algo proibido, como incesto, por exemplo.

Os jogadores do São Paulo já se perfilaram em Itaquera, para o hino, 18 vezes; em nenhuma dessas ocasiões terminaram o jogo com a vitória - Adriano Vizoni - 25.jul.23/Folhapress

Por mais que o corintiano possa dizer que está proibido mesmo ao São Paulo vencer em Itaquera, ninguém jamais estabeleceu coisa parecida.

Por que, então, desde setembro de 2014, nunca o São Paulo venceu lá, apesar de por vezes ter sido superior, como no último Majestoso?

Será que o sábio Doutor Eduardo Gonçalves de Andrade tem explicação para o fenômeno?

Pelo menos desta vez, e ainda bem, os gritos homofóbicos desapareceram, talvez pelo preço a ser pago no próximo sábado (29), contra o Vasco, pelo Corinthians, muito bem punido com portões fechados em seu lindo estádio de mármore.

Ligas pornográficas

Atualmente, quando se fala em ligas pelo mundo afora, o que vem à cabeça é a Premier League ou a Bundesliga, realidades bem-sucedidas na Inglaterra e na Alemanha.

Por aqui a fundação da Liga Brasileira de Futebol tem exposto dois projetos de ligas que, em vez de despertarem boas sensações, ao contrário, remetem a filmes já vistos.

A Libra tem entre seus articuladores um candidato a cartola, Flavio Zveiter, que esteve nela, saiu para assumir cargo na CBF, frustrou-se na entidade e voltou, sem nenhuma preocupação ética com conflito de interesses e informações privilegiadas, embora seja herdeiro de família ligada ao mundo jurídico do Rio de Janeiro, filho do famigerado desembargador Luiz Zveiter —o que, em canetada monocrática, anulou 11 jogos do Campeonato Brasileiro de 2005.

Do outro lado, a Liga Forte tem entre seus articuladores ex-sócios do Esporte Interativo, aquela empresa que prometeu revolucionar as transmissões esportivas no país e deu com os burros n’água.
Ou seja, em vez de ares novos, mais do mesmo. Vamos mal.

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