Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Viva a Copa das mulheres!

Viva como saudação e como verbo, porque o torneio merece ser vivido com vibração

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Depois da belíssima apresentação da Copa do Mundo das mulheres feita pelo talentoso vizinho Sandro Macedo na última terça-feira (18), melhor faria se ficasse quieto no meu canto.

"E o Brasil está mais para uma seleção no pote ‘pode surpreender’ do que no das ‘favoritas’. Diga-se que o Brasil do feminino é de certa forma a Croácia no masculino. E a Marta é o nosso Modric, uma maestra em sua última Copa, mas quem sabe ela não ganha a mesma bênção de Messi, que fez uma temporada limitada antes do Qatar para se transformar em semideus durante aquele mês."

Em poucas linhas, o melhor resumo possível das nossas expectativas sobre a seleção brasileira.

Acompanhar o futebol das mulheres tem sido experiência deliciosa não é de hoje.

Treino da seleção brasileira feminina em Gold Coast, na Austrália
Seleção treina em Gold Coast, na Austrália, para o Mundial - Thais Magalhães/CBF

Vice-campeã mundial em 2007, medalha de prata na Olimpíada de Pequim no ano seguinte, comandada pela excelência da Rainha Marta, a seleção sempre teve resultados espantosos diante do pouco-caso dado às jogadoras pelo Brasil afora e na CBF, desinteresse corrigido pelo trabalho estruturado feito a partir da contratação da treinadora sueca Pia Sundhage em 2019.

Mas não só, diga-se.

Porque clubes como a Ferroviária e como o Corinthians, entre outros, passaram a dar a devida importância, e o Campeonato Brasileiro passou a apresentar nível cada vez melhor, deficiente apenas na posição de goleira, defeito que também o tempo e o treinamento estão a corrigir.

Saudar a nona Copa que começa nesta quinta (20) ainda é necessário, diferentemente do que acontece com a dos homens, com 22 edições, natural e incomparavelmente mais badalada.

Daí a importância simbólica de certas medidas como a decretação de ponto facultativo para funcionários da administração federal, muito mais como meio para chamar atenção ao evento do que com efeito prático, até pelo horário dos jogos, sempre cedo pela manhã.

A Copa das mulheres está para o torcedor brasileiro como a política de quotas esteve, tão combatida no começo e hoje aceita pela maioria, rejeitada apenas por aqueles raros espécimes que negam haver racismo no país ou são contra vacinas.

É desnecessário comparar a Copa recém-realizada no Qatar com esta na Austrália e na Nova Zelândia.

Como é prejudicial, no Brasil, diferentemente do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, pregar igualdade de salários entre jogadores e jogadoras, dadas as cifras incomparáveis suscitadas por uns e por outras.

Tudo é processo, e, se olharmos para o começo deste século, constataremos quanto se progrediu de lá para cá desde que acabou a bobagem repetida ad nauseam de que futebol é pra homem.

Marta foi múltiplas vezes a melhor jogadora do mundo - Thais Magalhães/CBF

Por sinal, desculpem Rivaldo e os Ronaldos, houve um momento em que a pessoa com melhor domínio de todos os fundamentos do jogo se chamava Marta, a alagoana seis vezes eleita número 1 do futebol mundial, marca batida apenas por Lionel Messi.

E sem demagogia mesmo!

Porque só a mais rara das leitoras e o mais raro dos leitores sabem escalar a seleção ou dizer o nome da goleira titular. Tudo bem.

Aprenderemos ao olhar com simpatia e afeto para nossas jogadoras, que, além do mais, camisa amarela no peito, são cidadãs muito mais participativas e conscientes do que a imensa maioria de nossos jogadores.

E, se o Brasil não for a Croácia, nem Marta for o Modric, não faz mal.

Basta ocupar o espaço que era só dos marmanjos.

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